Os adversários do presidente Lula já têm um plano B, para o caso de fracassarem em seu objetivo de sangrá-lo com denúncias quase diárias, que atingem agora também o ministro Palocci. Se a próxima pesquisa Ibope confirmar a subida do presidente, empatando ou mesmo vencendo José Serra num hipotético segundo turno, o plano B entra em ação.
Esse plano ganhou força entre os membros do grupo a partir do referendo, com a derrota humilhante que o grupo do Não impôs ao Sim. Eles verificaram que a população se mobiliza mais para tratar de assuntos do seu dia-a-dia do que quando é chamada para tratar de embates políticos, que implicam “nessa chateação” de ideologia, programas de governo, coligações partidárias etc. Daí surge o plano B: uma tentativa de aplicar a “solução Karl Rove” nas eleições do ano que vem.
Karl Rove é o guru do presidente Bush, e principal responsável por sua vitória esmagadora nas últimas eleições presidenciais americanas. Diferentemente de nossos mais famosos marqueteiros, que são homens de comunicação visual, forjados nos filmes publicitários, Karl é um especialista em mala-direta. Por conta disso, um estudioso, quase que obsessivo, da demografia.
Nas últimas eleições presidenciais, enquanto as pesquisas indicavam uma provável derrota de Bush, Karl trabalhava em surdina estudando-as e fazendo comparações com as migrações populacionais e o comparecimento às urnas (é bom lembrar que nos EUA o voto não é obrigatório). A partir desse cruzamento verificou que venceria as eleições se conseguisse mobilizar a imensa massa conservadora, muito religiosa, moralista, que tradicionalmente não votava - talvez por absoluto desprezo à política e aos políticos. Na eleição anterior, por exemplo, ele descobriu que cerca de quatro milhões desses não votaram.
Para levar esse imenso contingente às urnas e garantir a vitória do candidato conservador (Bush) entra a “solução Karl Rove”: ele promoveu intenso lobby entre os congressistas, que resultou numa consulta à população, concomitante à eleição, sobre emendas constitucionais com temas polêmicos (aborto e união civil e religiosa de homossexuais) em estados com grande percentual de crentes fundamentalistas. Ou seja, casou a eleição presidencial com o referendo. Esses crentes compareceram em peso às urnas para barrar as “emendas pecaminosas” e votar no candidato que as condenava - Bush.
A mesma “solução Karl Rove” os adversários de Lula começam a ensaiar no Brasil. Não com o objetivo de aumentar o comparecimento às urnas, já que a votação aqui é obrigatória. O objetivo é “despolitizar” a campanha, tirar de Lula a iniciativa de poder apresentar os resultados do Bolsa Família e da política econômica, que são os dois pés que apóiam o presidente em sua caminhada para tentar a reeleição. Em lugar disso, pretendem casar a eleição com um referendo, por exemplo, sobre a liberação do aborto, para mobilizar o sentimento religioso, especialmente dos nordestinos – onde Lula é mais forte. Ou sobre temas como prisão perpétua, diminuição da maioridade penal etc, diretamente relacionados à segurança pública – onde o governo Lula tem o desempenho mais fraco.
O problema é que esse embaralhamento do jogo político pode não favorecer a nenhum dos principais adversários de Lula, mas dar lugar a um Mico Preto, que é aquela figura de baralho infantil que não tem par – no caso, alianças. Um Enéas, por exemplo. Um “salvador da pátria”, moralista, sem apoio político, que levará o país a uma crise que ninguém em sã consciência deseja.
Transformar a eleição para presidente – e também para governadores, senadores e deputados – em eleição de segunda classe, subordinada a temas polêmicos, como aborto ou estabelecimento da pena de prisão perpétua, pode levar o país a um beco sem saída. Este pode ser o preço que todos venhamos a pagar pelos que querem o poder a qualquer preço.
Esse plano ganhou força entre os membros do grupo a partir do referendo, com a derrota humilhante que o grupo do Não impôs ao Sim. Eles verificaram que a população se mobiliza mais para tratar de assuntos do seu dia-a-dia do que quando é chamada para tratar de embates políticos, que implicam “nessa chateação” de ideologia, programas de governo, coligações partidárias etc. Daí surge o plano B: uma tentativa de aplicar a “solução Karl Rove” nas eleições do ano que vem.
Karl Rove é o guru do presidente Bush, e principal responsável por sua vitória esmagadora nas últimas eleições presidenciais americanas. Diferentemente de nossos mais famosos marqueteiros, que são homens de comunicação visual, forjados nos filmes publicitários, Karl é um especialista em mala-direta. Por conta disso, um estudioso, quase que obsessivo, da demografia.
Nas últimas eleições presidenciais, enquanto as pesquisas indicavam uma provável derrota de Bush, Karl trabalhava em surdina estudando-as e fazendo comparações com as migrações populacionais e o comparecimento às urnas (é bom lembrar que nos EUA o voto não é obrigatório). A partir desse cruzamento verificou que venceria as eleições se conseguisse mobilizar a imensa massa conservadora, muito religiosa, moralista, que tradicionalmente não votava - talvez por absoluto desprezo à política e aos políticos. Na eleição anterior, por exemplo, ele descobriu que cerca de quatro milhões desses não votaram.
Para levar esse imenso contingente às urnas e garantir a vitória do candidato conservador (Bush) entra a “solução Karl Rove”: ele promoveu intenso lobby entre os congressistas, que resultou numa consulta à população, concomitante à eleição, sobre emendas constitucionais com temas polêmicos (aborto e união civil e religiosa de homossexuais) em estados com grande percentual de crentes fundamentalistas. Ou seja, casou a eleição presidencial com o referendo. Esses crentes compareceram em peso às urnas para barrar as “emendas pecaminosas” e votar no candidato que as condenava - Bush.
A mesma “solução Karl Rove” os adversários de Lula começam a ensaiar no Brasil. Não com o objetivo de aumentar o comparecimento às urnas, já que a votação aqui é obrigatória. O objetivo é “despolitizar” a campanha, tirar de Lula a iniciativa de poder apresentar os resultados do Bolsa Família e da política econômica, que são os dois pés que apóiam o presidente em sua caminhada para tentar a reeleição. Em lugar disso, pretendem casar a eleição com um referendo, por exemplo, sobre a liberação do aborto, para mobilizar o sentimento religioso, especialmente dos nordestinos – onde Lula é mais forte. Ou sobre temas como prisão perpétua, diminuição da maioridade penal etc, diretamente relacionados à segurança pública – onde o governo Lula tem o desempenho mais fraco.
O problema é que esse embaralhamento do jogo político pode não favorecer a nenhum dos principais adversários de Lula, mas dar lugar a um Mico Preto, que é aquela figura de baralho infantil que não tem par – no caso, alianças. Um Enéas, por exemplo. Um “salvador da pátria”, moralista, sem apoio político, que levará o país a uma crise que ninguém em sã consciência deseja.
Transformar a eleição para presidente – e também para governadores, senadores e deputados – em eleição de segunda classe, subordinada a temas polêmicos, como aborto ou estabelecimento da pena de prisão perpétua, pode levar o país a um beco sem saída. Este pode ser o preço que todos venhamos a pagar pelos que querem o poder a qualquer preço.