Há pouco tempo, estradas do centro-oeste até o porto de Paranaguá foram obstruídas por ruralistas, por durante quase dois meses. O direito de ir-e-vir das pessoas ficou subjugado aos comandos da estrada, que definiam quem podia ou não passar.
A mídia noticiou o fato, na grande maioria das vezes, em pequenas notícias perdidas nas páginas de menor visibilidade. Não se leu um editorial reclamando que a Constituição estava sendo violentada, não se viu um editorial defendendo a necessidade de o Exército restabelecer a ordem. Os políticos que se pronunciaram através da imprensa criticavam não os ruralistas, mas a “insensibilidade do governo para o grave problema no campo”.
Como resultado, o governo liberou bilhões para os ruralistas, em créditos a perder de vista e novos financiamentos de dívidas, que vêm sendo roladas ano após ano, governo após governo.
Agora, com a invasão da Câmara por membros do MLST, tudo muda. Invoca-se a Constituição, clama-se por uma ação do Exército, exige-se repressão violenta e cadeia “ para os baderneiros”.
E o que queriam esses “baderneiros”? Resumidamente, duas coisas: pressa na reforma agrária, penalização para os que exploram o trabalho escravo. Sobre este tema, existe um projeto a ser votado que pune com desapropriação o proprietário que for flagrado beneficiando-se de trabalho escravo. A bancada ruralista sabota a votação, e o projeto está parado.
Os membros do MLST foram à Câmara e queriam ser recebidos ontem mesmo porque buscavam ser ouvidos, queriam que os deputados votassem esses projetos. A urgência explica-se: amanhã começa a Copa do Mundo. Após, começa a campanha eleitoral, e o Congresso simplesmente não vai votar mais nada nesta Legislatura – embora vá continuar a receber normalmente.
A mídia e boa parte da opinião pública criticam aquilo que foi visto nas imagens reproduzidas na TV e nos depoimentos de seguranças da Câmara, que afirmam que o MLST já chegou quebrando tudo. Os membros do MLST dizem que desceram dos ônibus e pretendiam apenas entrar para falar com os deputados e que isso lhes foi proibido pela segurança. ( Na verdade, vídeo recolhido pela polícia mostra que eles pretendiam fazer uma manifestação no interior da Câmara – mais especificamente no Salão Verde – para divulgar suas pretensões. Mas, alegam, foram impedidos de entrar.)
Artigo do jornalista Fernando Rodrigues, na Folha de hoje, afirma que "Basta vestir terno e gravata, olhar para cima e qualquer um entra ali [na Câmara]". Será que se, em vez do MLST, quem quisesse entrar na Câmara fossem 500 membros da poderosa Fiesp, todos devidamente de terno, eles seriam barrados pela segurança?
É verdade que não se justificam o vandalismo e o quebra-quebra que aconteceram, mas enxergar no episódio de ontem apenas esta parte visível e encobrir o grave problema da falta de reforma agrária e do trabalho escravo no Brasil é querer tapar o sol com a peneira.
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A mídia noticiou o fato, na grande maioria das vezes, em pequenas notícias perdidas nas páginas de menor visibilidade. Não se leu um editorial reclamando que a Constituição estava sendo violentada, não se viu um editorial defendendo a necessidade de o Exército restabelecer a ordem. Os políticos que se pronunciaram através da imprensa criticavam não os ruralistas, mas a “insensibilidade do governo para o grave problema no campo”.
Como resultado, o governo liberou bilhões para os ruralistas, em créditos a perder de vista e novos financiamentos de dívidas, que vêm sendo roladas ano após ano, governo após governo.
Agora, com a invasão da Câmara por membros do MLST, tudo muda. Invoca-se a Constituição, clama-se por uma ação do Exército, exige-se repressão violenta e cadeia “ para os baderneiros”.
E o que queriam esses “baderneiros”? Resumidamente, duas coisas: pressa na reforma agrária, penalização para os que exploram o trabalho escravo. Sobre este tema, existe um projeto a ser votado que pune com desapropriação o proprietário que for flagrado beneficiando-se de trabalho escravo. A bancada ruralista sabota a votação, e o projeto está parado.
Os membros do MLST foram à Câmara e queriam ser recebidos ontem mesmo porque buscavam ser ouvidos, queriam que os deputados votassem esses projetos. A urgência explica-se: amanhã começa a Copa do Mundo. Após, começa a campanha eleitoral, e o Congresso simplesmente não vai votar mais nada nesta Legislatura – embora vá continuar a receber normalmente.
A mídia e boa parte da opinião pública criticam aquilo que foi visto nas imagens reproduzidas na TV e nos depoimentos de seguranças da Câmara, que afirmam que o MLST já chegou quebrando tudo. Os membros do MLST dizem que desceram dos ônibus e pretendiam apenas entrar para falar com os deputados e que isso lhes foi proibido pela segurança. ( Na verdade, vídeo recolhido pela polícia mostra que eles pretendiam fazer uma manifestação no interior da Câmara – mais especificamente no Salão Verde – para divulgar suas pretensões. Mas, alegam, foram impedidos de entrar.)
Artigo do jornalista Fernando Rodrigues, na Folha de hoje, afirma que "Basta vestir terno e gravata, olhar para cima e qualquer um entra ali [na Câmara]". Será que se, em vez do MLST, quem quisesse entrar na Câmara fossem 500 membros da poderosa Fiesp, todos devidamente de terno, eles seriam barrados pela segurança?
É verdade que não se justificam o vandalismo e o quebra-quebra que aconteceram, mas enxergar no episódio de ontem apenas esta parte visível e encobrir o grave problema da falta de reforma agrária e do trabalho escravo no Brasil é querer tapar o sol com a peneira.
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