Os tucanos e a Teoria da relatividade moral (4)

Reportagem publicada na Folha de São Paulo de 21/05/1997, sobre a participação do ministro das Comunicações, Sérgio Motta, conhecido como Serjão, na negociação para a suposta compra de votos a favor da emenda da reeleição de Fernando Henrique Cardoso:

A participação do ministro das Comunicações, Sérgio Motta, nas negociações para a aprovação da emenda da reeleição é mencionada expressamente pelos deputados João Maia (sem partido-AC) e Ronivon Santiago (sem partido-AC) nas gravações.
Diversamente do que sustenta o governo, as fitas não contêm apenas referências dúbias e genéricas sobre o envolvimento do ministro, mas descrições precisas e recorrentes de sua atuação no episódio.
João Maia é sempre explícito quanto à participação de Motta na aprovação da emenda. Ronivon Santiago manifesta dúvidas sobre a origem do dinheiro, mas também deixa claro que a negociação envolveu a concessão de canais no Acre.
De acordo com as gravações, o ministro atuou em duas frentes: na intermediação do pagamento aos deputados e na concessão de canais de rádio e TV.
O deputado João Maia é afirmativo ao mencionar o nome do ministro Sérgio Motta na compra de seu voto por R$ 200 mil. Segundo ele, foi o próprio ministro quem marcou sua audiência com o governador Amazonino Mendes (PFL):

"Pelo que eu sei bem é o seguinte: eram os 200 do Serjão, via Amazonino, que era a cota federal, aí do acordo... Ele falou, pra todo mundo, aí, meio mundo, aí. Eu falei com o Luís Eduardo. O Luís Eduardo marcou uma audiência com o Serjão. Daí, o Serjão marcou com o Amazonino".

Maia menciona diversas vezes a participação do ministro no acordo para a compra dos votos: "E que esse dinheiro do Amazonino era o dinheiro que já estava aí. Você entendeu? Que o Serjão já tinha acertado". Ele afirma de forma categórica que o dinheiro foi entregue por ordem do ministro das Comunicações: "Aquele dinheiro era dinheiro do Amazonino. Que mandou trazer por ordem do... do... menino aqui, do Serjão".
Ele explica que os R$ 200 mil para aprovar a emenda da reeleição -que beneficiava o presidente Fernando Henrique Cardoso- não deveriam ser usados para pagar os "atrasados" do governador do Acre, Orleir Cameli: "E já tinha sido o Sérgio Motta -isso aí aqui na Presidência, né? Luís Eduardo vai falar com o Sérgio Motta, Sérgio Motta fala com o Amazonino, só que seria um troço..., quer dizer, não teria nada a ver com Orleir pagar os atrasados dele".
João Maia deixa claro que os R$ 200 mil integravam a "cota federal" do negócio: "Era um dinheiro que o Amazonino tinha mandado trazer. Esse era um dinheiro que nós íamos receber da cota federal, digamos, do negócio".
Ronivon Santiago também menciona a participação do ministro no pagamento dos R$ 200 mil, mas de forma indecisa, cautelosa: "Mas quem deu (o dinheiro) foi o Sérgio Motta ao Amazonino, parece". E, na continuação: "Sérgio Motta, eu acho, sei lá".

Rádio


Ronivon Santiago é bem mais explícito quanto à negociação das concessões de canais.
Segundo o deputado, ele recebeu uma retransmissora de TV de Motta, que foi registrada em nome de um "amigo", no ano passado, e acertou com Motta a concessão de uma emissora de rádio -que seria submetida a uma suposta "concorrência". Veja o diálogo:

Senhor X - E isso o Sérgio Motta sabia?
Ronivon - Sabia. Negócio pro banco. Dinheiro, negócio pro banco do Estado, né? Estrada... Tinha três itens... Eu tive lá com o Sérgio Motta. Tu tá sabendo que eu tô com a... levando uma televisão, o canal 40, né? De Quinari. Nós estamos inaugurando agora. Aí, o caso é o seguinte, o canal 40, né? É bom né?
Senhor X - Claro.
Ronivon - Aí, o caso é o seguinte, eu fui lá com ele pra poder me dar uma rádio também, né, agora. Ele vai me dar. Eu transei com ele, tem uma concorrência. Tem uma jogadinha lá, concorrência, tal. Mas vamos estar lá juntos também, né. Mas não está no meu nome, não. É no nome de um cara lá, de um amigo meu.


( O senhor X da reportagem é a pessoa que passou as fitas para a Folha, e que o jornal manteve no anonimato)
Se quiser ler mais trechos das gravações que mencionam Sérgio Motta, clique aqui.

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