A seguir, alguns comentários sobre o artigo do diretor de Jornalismo da TV Globo, Ali Kamel, publicado no Observatório da Imprensa. O artigo foi a forma que Ali Kamel encontrou para responder à matéria de capa da revista CartaCapital, que pode ser lida na íntegra aqui.
Por que o JN não noticiou desaparecimento do Boeing da Gol
Ali Kamel:
Bom, não sei como é feita a apuração do JN, mas o site da Gol traz a seguinte informação, que teria sido postada às 20:10:00 daquele dia 29 de setembro:
A rádio CBN não pertence às Organizações Globo? Rádio e TV não se falam? As informações que Ali Kamel disse que não tinham no JN, enquanto batiam cabeça, estavam todas na entrevista do presidente da Infraero. Não valeriam, ao menos, uma nota?
Por que apenas no Jornal Nacional?
O CD com as fotos foi entregue aos repórteres às 10h30min, no entanto, elas só foram publicadas na internet no início da noite, e divulgadas pela Globo apenas no Jornal Nacional, conforme pediu explicitamente o delegado Bruno, como mostra este trecho da transcrição da conversa do delegado com os repórteres [os destaques são meus]:
Se tinham o material desde as 10h30min, por que não foi divulgado no Jornal Hoje? Por que o jornalismo da Globo, dirigido por Ali Kamel, subordinou a divulgação da informação às ordens do delegado?
As perguntas que Ali Kamel não respondeu
Em outro trecho de seu artigo, Ali Kamel afirma:
A seguir, as perguntas que Ali Kamel afirma partirem de premissas falsas, para que o leitor faça seu julgamento:
1. Qual foi o critério adotado para a distribuição de tempo e espaço para os candidatos? Qual o princípio que norteou o critério adotado?
2. O critério adotado para esta eleição presidencial foi o mesmo das eleições anteriores ou, mais precisamente, o mesmo da eleição de 2002?
3. Por que, a partir do estouro do escândalo do dossiê, o Jornal Nacional não citou que 70% das ambulâncias da Planam foram liberadas na gestão do PSDB?
4. O Jornal Nacional, como ocorreu na edição de 23 de setembro, faz referência, com precisão, aos petistas Oswaldo Bargas, Jorge Lorenzetti e Expedito Veloso como "assessores da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva", mas, quando se refere, nesse mesmo dia, às relações do senhor Barjas Negri com Luiz Antonio Vedoin, da máfia das ambulâncias, diz que ele é "ex-ministro do governo passado"? Não há, no caso, um tratamento desigual? (Em várias edições essa situação se repete.)
5. Por que, em nenhum momento, o JN não destacou um repórter para a investigação das relações de Barjas Negri e Abel Pereira em Piracicaba?
6. Temos informações seguras, que podem ser confirmadas pela equipe do SP-TV, de que um diretor da Globo vetou perguntas politicamente incômodas para o candidato a governador José Serra.
7. Na cobertura das eleições para o governo de São Paulo, os repórteres receberam a orientação de fazer entrevistas com os candidatos, nas ruas, com perspectivas propositivas. Ao candidato do PT, Aloizio Mercadante, não era dado espaço para falar do PCC e da perda de controle da ação policial no estado. Contrariamente, na campanha presidencial, era dado espaço amplo para críticas (justas ou injustas, não entramos no mérito) ao candidato Lula.
8. Sabe-se que foram produzidas matérias (pelo menos uma) sobre Abel Pereira. A reportagem foi editada, mas não foi ao ar. Qual o critério adotado nesse caso?
9. A Globo tem o áudio da conversa do delegado que entregou as fotos do dinheiro para a imprensa, mas não o divulgou. Além disso, adotou critérios diferentes para divulgar as fotos (obtidas ilegalmente) na véspera da eleição e não divulgar o dossiê de Cuiabá sob a alegação de que o material estava sob suspeita.
10. É fato que até hoje os telespectadores do JN não viram o governador eleito de São Paulo, José Serra, discursar na cerimônia de entrega das ambulâncias, ao lado de deputados sanguessugas. Por quê?
Ali Kamel ou é uma coisa ou outra
Ainda sobre as perguntas de Maurício Dias, Ali Kamel afirma:
Aqui, Ali Kamel se refere às perguntas 5 e 8. A 5 quer saber por que a Globo não destacou uma equipe para investigar as relações de Barjas Negri e Abel Pereira em Piracicaba. A 8 afirma que foi produzida e editada uma matéria sobre Abel Pereira, mas não foi levada ao ar. Uma só excluiria a outra se a tal reportagem que foi editada e não foi ao ar fosse sobre as relações de Barjas Negri e Abel Pereira em Piracicaba. E, se for esse o caso, por que não foi ao ar? O diretor da Globo também não respondeu.
Atualização: 21/10. Recebi por e-mail as seguintes informações de Ali Kamel:
. Por que não foi divulgado o acidente com o Boeing da Gol:
. Por que a reportagem não foi ao ar no Jornal Hoje?
. Quanto às perguntas de Maurício Dias:
O leitor tire suas conclusões.
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Por que o JN não noticiou desaparecimento do Boeing da Gol
Ali Kamel:
"As primeiras informações sobre o desaparecimento de um avião nos chegaram quando o JN já estava havia muito no ar (o telejornal teve início às 20h). Imediatamente, nossas equipes saíram à cata de informações, que eram escassas e sem confirmação. Seria um avião de passageiros que estava desaparecido ou atrasado? Ele era da Gol ou da Embraer? Ele sumiu em Mato Grosso, indo para Brasília, ou no Pará, indo para Manaus? Em nossas redações, foi aquela correria, mas todos tínhamos uma convicção: só poríamos a informação no ar quando tivéssemos certeza dela."
Bom, não sei como é feita a apuração do JN, mas o site da Gol traz a seguinte informação, que teria sido postada às 20:10:00 daquele dia 29 de setembro:
A Força Aérea Brasileira está tentando localizar um Boeing da GOL que desapareceu do radar depois de um choque com um avião menor, Legacy, disse à rádio o presidente da Infraero, José Carlos Pereira.
"A Força Aérea está no local do choque. Mais uma hora, uma hora e meia e talvez a gente consiga ter alguma coisa (informação)", disse Pereira à CBN.
Segundo a emissora, o Legacy conseguiu pousar na Serra do Cachimbo, no sul do Pará.
Mais cedo, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou que um avião da Gol com 155 pessoas havia sumido nas imediações de São Felix do Araguaia (MT), na região da Amazônia.(clique aqui para ver foto da página da Gol, com a data e o horário)
A rádio CBN não pertence às Organizações Globo? Rádio e TV não se falam? As informações que Ali Kamel disse que não tinham no JN, enquanto batiam cabeça, estavam todas na entrevista do presidente da Infraero. Não valeriam, ao menos, uma nota?
Por que apenas no Jornal Nacional?
O CD com as fotos foi entregue aos repórteres às 10h30min, no entanto, elas só foram publicadas na internet no início da noite, e divulgadas pela Globo apenas no Jornal Nacional, conforme pediu explicitamente o delegado Bruno, como mostra este trecho da transcrição da conversa do delegado com os repórteres [os destaques são meus]:
Delegado Edmilson Bruno - Não, tem que sair hoje à noite (...) pode ser no jornal da Globo no primeiro horário, não pode ser à tarde...
Repórter - por exemplo (...)
Delegado Edmilson Bruno -Tem que sair no Jornal Nacional e na Ana Paula Padrão. Isso aí vazou ontem, então tem que fazer hoje de manhã. O que não pode é perder (...) tem que entrar no jornal logo no primeiro horário da noite, não pode já sair no Jornal Hoje.
Se tinham o material desde as 10h30min, por que não foi divulgado no Jornal Hoje? Por que o jornalismo da Globo, dirigido por Ali Kamel, subordinou a divulgação da informação às ordens do delegado?
As perguntas que Ali Kamel não respondeu
Em outro trecho de seu artigo, Ali Kamel afirma:
De resto, diante do questionário que Maurício Dias me mandou, tomei a decisão de não responder especificamente a nenhuma das perguntas, porque todas partiam de premissas falsas ou relatavam episódios que simplesmente não existiram.
A seguir, as perguntas que Ali Kamel afirma partirem de premissas falsas, para que o leitor faça seu julgamento:
1. Qual foi o critério adotado para a distribuição de tempo e espaço para os candidatos? Qual o princípio que norteou o critério adotado?
2. O critério adotado para esta eleição presidencial foi o mesmo das eleições anteriores ou, mais precisamente, o mesmo da eleição de 2002?
3. Por que, a partir do estouro do escândalo do dossiê, o Jornal Nacional não citou que 70% das ambulâncias da Planam foram liberadas na gestão do PSDB?
4. O Jornal Nacional, como ocorreu na edição de 23 de setembro, faz referência, com precisão, aos petistas Oswaldo Bargas, Jorge Lorenzetti e Expedito Veloso como "assessores da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva", mas, quando se refere, nesse mesmo dia, às relações do senhor Barjas Negri com Luiz Antonio Vedoin, da máfia das ambulâncias, diz que ele é "ex-ministro do governo passado"? Não há, no caso, um tratamento desigual? (Em várias edições essa situação se repete.)
5. Por que, em nenhum momento, o JN não destacou um repórter para a investigação das relações de Barjas Negri e Abel Pereira em Piracicaba?
6. Temos informações seguras, que podem ser confirmadas pela equipe do SP-TV, de que um diretor da Globo vetou perguntas politicamente incômodas para o candidato a governador José Serra.
7. Na cobertura das eleições para o governo de São Paulo, os repórteres receberam a orientação de fazer entrevistas com os candidatos, nas ruas, com perspectivas propositivas. Ao candidato do PT, Aloizio Mercadante, não era dado espaço para falar do PCC e da perda de controle da ação policial no estado. Contrariamente, na campanha presidencial, era dado espaço amplo para críticas (justas ou injustas, não entramos no mérito) ao candidato Lula.
8. Sabe-se que foram produzidas matérias (pelo menos uma) sobre Abel Pereira. A reportagem foi editada, mas não foi ao ar. Qual o critério adotado nesse caso?
9. A Globo tem o áudio da conversa do delegado que entregou as fotos do dinheiro para a imprensa, mas não o divulgou. Além disso, adotou critérios diferentes para divulgar as fotos (obtidas ilegalmente) na véspera da eleição e não divulgar o dossiê de Cuiabá sob a alegação de que o material estava sob suspeita.
10. É fato que até hoje os telespectadores do JN não viram o governador eleito de São Paulo, José Serra, discursar na cerimônia de entrega das ambulâncias, ao lado de deputados sanguessugas. Por quê?
Ali Kamel ou é uma coisa ou outra
Ainda sobre as perguntas de Maurício Dias, Ali Kamel afirma:
Numa delas, por exemplo, indaga-se por que a TV Globo não destacou um repórter para investigar a participação de Abel Pereira na máfia das sanguessugas; em outra pergunta, afirma-se que a TV Globo engavetou uma ou mais reportagens sobre Abel, uma delas já editada e que nunca teria ido ao ar. O repórter não se deu conta de que é ou uma coisa ou outra. Mas se há dúvidas sobre as minhas respostas, reitero aqui: as premissas das perguntas eram sempre falsas.
Aqui, Ali Kamel se refere às perguntas 5 e 8. A 5 quer saber por que a Globo não destacou uma equipe para investigar as relações de Barjas Negri e Abel Pereira em Piracicaba. A 8 afirma que foi produzida e editada uma matéria sobre Abel Pereira, mas não foi levada ao ar. Uma só excluiria a outra se a tal reportagem que foi editada e não foi ao ar fosse sobre as relações de Barjas Negri e Abel Pereira em Piracicaba. E, se for esse o caso, por que não foi ao ar? O diretor da Globo também não respondeu.
Atualização: 21/10. Recebi por e-mail as seguintes informações de Ali Kamel:
. Por que não foi divulgado o acidente com o Boeing da Gol:
O site que o senhor menciona como sendo da Gol não é da Gol linhas aéreas. Aliás, nenhum de nós pode descobrir o que é aquilo. O site da Gol é o seguinte: http://www.voegol.com.br/. Verifique você mesmo. As notícias do site que você menciona são todas piratas. Os horários não condizem com a verdade. Fiz uma extensa pesquisa. Uma nota que eles reproduzem da Agencia Estado, como tendo ido ao ar supostamente às 20h40, foi publicada pela Agência Estado às 22h10 (basta pesquisar no site da agencia).
Da mesma forma, é absolutamente mentirosa a afirmação do site de que postou a notícia da CBN às 20h10. A menos que o site fique num lugar com fuso horário diferente do nosso, não sei. Porque a CBN pôs a primeira informação no ar sobre o desaparecimento do avião às 20h38, mesmo assim com informações muito precárias. Por exemplo, o número do vôo mencionado é errado. A nota falava no vôo 8565, quando todos hoje sabem que o correto é 1907. A CBN só voltou ao caso às 21h10, desta vez, sem dar o número do vôo. A entrevista com o presidente da Infraero entrou somente no ar às 21h15.
Tudo isso é facilmente provado, porque rádios têm, por lei, que manter o registro de tudo o que vai ao ar, numa fita mestra.
. Por que a reportagem não foi ao ar no Jornal Hoje?
Por que não saíram no Jornal Hoje? Porque a Globo não põe nada no ar sem checar autenticidade. Mesmo recebendo de uma fonte credenciada. É zelo. É cuidado.
. Quanto às perguntas de Maurício Dias:
Sobre as perguntas, insisto: partem de premissas falsas ou relatam episódios que não existiram. Digo e repito isso. Partem de premissas falsas ou relatam episódios que não existiram. Esta é a verdade.
O leitor tire suas conclusões.
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