Rede Globo responde à carta de Rodrigo Vianna

A Rede Globo respondeu à carta do repórter Rodrigo Vianna, por meio de um comunicado assinado pelo diretor de redação da Globo em São Paulo, Luiz Claudio Latgé, publicado na íntegra a seguir [o destaque em negrito é meu]:

O repórter Rodrigo Vianna foi informado hoje de que o contrato dele, que termina dia 31 de janeiro, não será renovado. A comunicação com um mês de antecedência é uma exigência do contrato. Está claro que o Rodrigo preparou-se para este momento, a ponto de ter uma longa mensagem pronta a ser divulgada. Os motivos da não renovação nada têm a ver com a cobertura das eleições, como ele especula. Em respeito a ele, jamais pretendi torná-los públicos nem farei isso agora. Rodrigo, porém, nem os quis conhecer. Ao ouvir de mim que o contrato não seria renovado, saiu intempestivamente de minha sala e enviou um e-mail para a Redação.
Rodrigo deve ter pensado que poderia encontrar no ataque aos colegas e na mentira uma saída nobre. Com essa atitude, ele pareceu querer se defender de acusações que jamais passaram pela nossa cabeça. A pergunta que fica é a seguinte: se a integridade dele é tão elevada, como ele supõe, por que não se demitiu anteriormente, convivendo durante meses com uma situação que ele classifica de insuportável? Não o fez porque tinha como certo que seu contrato seria renovado. Para que não perdesse o emprego por motivos menos nobres, preferiu repetir, quase literalmente, acusações que jornalistas mal-intencionados já nos tinham feito. Talvez tenha pensado que, assim, sairia como mártir. Deu a entender que partiu dele a iniciativa de sair, quando na verdade todos os sinais que emitia eram de que queria ficar. Lamento que tenha perdido o equilíbrio e tentado transformar um assunto funcional interno numa questão política, que jamais existiu. Sinto não ter percebido antes que, intuindo que poderia ser desligado por outros motivos, construa essa "justificativa política", sem base na realidade. Foi um comportamento indigno. E não é justo com o trabalho de todos deixar sem resposta as críticas que ele nos faz.
Fizemos uma cobertura eleitoral intensa e democrática, com a abertura de espaços em todos os nossos telejornais para todos os partidos, que mais de uma vez reconheceram nossa isenção e a importância do serviço prestado ao público. Não inventamos uma pilha de dinheiro na mesa da Polícia Federal. Já saímos a público antes para refutar estas teorias conspiratórias produzidas por grupos políticos e jornalistas descompromissados com a verdade.
Nosso noticiário em nada foi diferente dos demais veículos de imprensa de importância. De setembro a outubro, demos 20 reportagens sobre Abel Pereira e Barjas Negri. Todos os assuntos foram investigados, sim, e noticiados segundo o seu grau de relevância. Tudo o que fizemos foi exposto ao juízo do público em nossas edições diárias. Nossa isenção jornalística foi elogiada em artigos até por veículos de grupos concorrentes.
Não há nada em nossa conduta ou em nossas decisões editoriais que tenha nos afastado do bom jornalismo e muito menos que nos envergonhe.
A confusão de idéias que o Rodrigo Vianna expressa deve ter razões pessoais e compromissos que não nos cabe julgar. Peço desculpas aos colegas pelos ataques e ofensas por ele dirigidos.


A resposta da Rede Globo não se mostrou à altura da carta de Rodrigo Vianna. Pode ser verdade tudo o que Rodrigo diz; pode ser verdade parte do que ele diz; tudo o que ele afirma pode ser mentira, apenas palavras de um ressentido. Mas ele foi transparente. Abriu o jogo e mostrou suas cartas. Apontou fatos, detalhes. O senhor Latgé, como anteriormente o senhor Kamel, responde com generalidades, como quando afirma que todos os partidos "mais de uma vez reconheceram nossa isenção e a importância do serviço prestado ao público". O que em relação aos partidos que apoiaram a candidatura de Lula - a começar pelo PT - é falso, absolutamente falso.

Rodrigo não afirma que não foram feitas matérias sobre Abel Pereira e Barjas Negri, na carta ele afirma o seguinte [o grifo é meu]:"Também não vi (antes do primeiro turno) reportagens mostrando quem era Abel Pereira, quem era Barjas Negri, e quais eram as conexões deles com PSDB".

E como chamar, a não ser de ameaça velada, o trecho que destaquei em negrito na resposta de Latgé? Parece-me aquela anedota em que o padre se dirige aos convidados, na cerimônia de casamento, “Se algum presente conhece algo que possa impedir o casamento, fale agora, ou cale-se para sempre". Alguém se levanta e afirma: "Eu conheço. Mas vou me calar para sempre". Exatamente como o senhor Latgé naquele trecho do comunicado.

Pra terminar: chamar as críticas à Rede Globo de "acusações de jornalistas mal-intencionados", é demais, não? A emissora não erra? Serão todos os que criticam a Globo mal-intencionados? Serão Mino Carta e Raimundo Pereira (os alvos ocultos de Latgé), por exemplo, jornalistas mal-intencionados?...De boas intenções, diz o dito popular, o inferno está cheio. Parece que a Rede Globo também.

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