Artigo originalmente publicado no Jornal do Brasil, dez. 2004.
Todos os dias lemos nos jornais cartas de leitores, artigos e entrevistas dos mais variados especialistas fazendo críticas e apresentando soluções para o problema da (in) segurança pública no Rio. No entanto, ela só aumenta.
Será que não estamos como certos obesos que querem emagrecer sem ter de fazer dieta ou exercícios físicos e vivem à espera de um remédio milagroso? Quando comentamos sobre a violência e defendemos uma polícia mais enérgica, Exército nas ruas, penas mais duras, uns ''bons cascudos'', ou até mesmo a pena de morte para os bandidos (esses ''outros'' que desrespeitam as leis e teimam em nos atingir com suas balas perdidas), não estamos agindo como esses obesos?
Queremos que a violência acabe, mas achamos que a solução não depende de nós. Porém, a verdade é que somos os principais financiadores dessa situação: 1) quando compramos drogas ilegais, softwares, relógios e outros objetos pirateados; quando jogamos no bicho; 2) quando subornamos policiais e pagamos a ''despachantes'' para ''abrir caminhos'' na burocracia, estimulando a corrupção; 3) quando com nossos votos e impostos sustentamos a política de (in) segurança que combate essa violência.
Usando mais uma vez o exemplo dos obesos, o que temos é que fazer dieta e exercícios físicos. A dieta implica em ''respeitar as leis vigentes''. Se não concordamos com elas, lutemos para modificá-las, mas, enquanto isso, devemos respeitá-las. Não comprar um baseadinho, não fazer uma fezinha no bicho, não estacionar em local proibido, ''é só um instantinho!'' - e todos os demais ''inhos'' a que nos habituamos no dia-a-dia. Se fizermos assim, vamos atacar dois lados do problema, cortando o financiamento dos criminosos e dos corruptos.
Vem então a outra parte, a dos exercícios físicos. Temos de sair de nossa acomodação, de acharmos que nossa participação na vida política deve se resumir a votar. Vamos cobrar: dos membros do Executivo (municipal, estadual e federal), que parem de brigar entre si e busquem os melhores meios para proporcionar segurança à população.
Dos policiais, que cumpram com seu dever. Se os salários estão baixos, os equipamentos defasados, a política atrapalha, tudo isso deve ser motivo para justas reivindicações. Porém, cumpram com suas obrigações enquanto as demandas não são resolvidas e não tenham medo de levar uma investigação ''às últimas conseqüências'', ainda que o ''chefão'' do caso investigado seja um político influente, um empresário de sucesso ou um juiz famoso.
Dos membros do poder Legislativo, que busquem adequar as leis vigentes às demandas da sociedade. Mas também dêem o exemplo, cortando na própria carne, evitando o corporativismo que os desmoraliza aos olhos da população.
Dos membros do Judiciário, que lutem para que a Justiça seja feita e não para adequar as leis às necessidades de seus clientes. Não é possível que criminosos conhecidos tenham para ''defendê-los'' mais de uma dezena de advogados, que buscam apenas brechas nas leis para colocar em liberdade indivíduos que eles sabem que deveriam estar atrás das grades.
Falando assim, parece que não vai dar certo. Desanimados, alguns chegam a pensar numa saída radical, que seria como a cirurgia do estômago: entregar a solução a um regime autoritário, que botaria a tropa nas ruas e faria com que a violência emagrecesse. Mas se o uso de uma força maior resolvesse, os Estados Unidos teriam vencido a guerra do Vietnã, Israel já teria resolvido a ''questão palestina''...
No entanto, se somos pessimistas no diagnóstico, temos de ser otimistas na ação. Portanto, dieta e exercícios já! Ou isso ou continuamos à espera de um remédio milagroso, um político que prometa que vai resolver tudo, sem que tenhamos de fazer nada, a não ser votar nele. Já tivemos essa experiência algumas vezes. Por isso estamos nessa situação.
Todos os dias lemos nos jornais cartas de leitores, artigos e entrevistas dos mais variados especialistas fazendo críticas e apresentando soluções para o problema da (in) segurança pública no Rio. No entanto, ela só aumenta.
Será que não estamos como certos obesos que querem emagrecer sem ter de fazer dieta ou exercícios físicos e vivem à espera de um remédio milagroso? Quando comentamos sobre a violência e defendemos uma polícia mais enérgica, Exército nas ruas, penas mais duras, uns ''bons cascudos'', ou até mesmo a pena de morte para os bandidos (esses ''outros'' que desrespeitam as leis e teimam em nos atingir com suas balas perdidas), não estamos agindo como esses obesos?
Queremos que a violência acabe, mas achamos que a solução não depende de nós. Porém, a verdade é que somos os principais financiadores dessa situação: 1) quando compramos drogas ilegais, softwares, relógios e outros objetos pirateados; quando jogamos no bicho; 2) quando subornamos policiais e pagamos a ''despachantes'' para ''abrir caminhos'' na burocracia, estimulando a corrupção; 3) quando com nossos votos e impostos sustentamos a política de (in) segurança que combate essa violência.
Usando mais uma vez o exemplo dos obesos, o que temos é que fazer dieta e exercícios físicos. A dieta implica em ''respeitar as leis vigentes''. Se não concordamos com elas, lutemos para modificá-las, mas, enquanto isso, devemos respeitá-las. Não comprar um baseadinho, não fazer uma fezinha no bicho, não estacionar em local proibido, ''é só um instantinho!'' - e todos os demais ''inhos'' a que nos habituamos no dia-a-dia. Se fizermos assim, vamos atacar dois lados do problema, cortando o financiamento dos criminosos e dos corruptos.
Vem então a outra parte, a dos exercícios físicos. Temos de sair de nossa acomodação, de acharmos que nossa participação na vida política deve se resumir a votar. Vamos cobrar: dos membros do Executivo (municipal, estadual e federal), que parem de brigar entre si e busquem os melhores meios para proporcionar segurança à população.
Dos policiais, que cumpram com seu dever. Se os salários estão baixos, os equipamentos defasados, a política atrapalha, tudo isso deve ser motivo para justas reivindicações. Porém, cumpram com suas obrigações enquanto as demandas não são resolvidas e não tenham medo de levar uma investigação ''às últimas conseqüências'', ainda que o ''chefão'' do caso investigado seja um político influente, um empresário de sucesso ou um juiz famoso.
Dos membros do poder Legislativo, que busquem adequar as leis vigentes às demandas da sociedade. Mas também dêem o exemplo, cortando na própria carne, evitando o corporativismo que os desmoraliza aos olhos da população.
Dos membros do Judiciário, que lutem para que a Justiça seja feita e não para adequar as leis às necessidades de seus clientes. Não é possível que criminosos conhecidos tenham para ''defendê-los'' mais de uma dezena de advogados, que buscam apenas brechas nas leis para colocar em liberdade indivíduos que eles sabem que deveriam estar atrás das grades.
Falando assim, parece que não vai dar certo. Desanimados, alguns chegam a pensar numa saída radical, que seria como a cirurgia do estômago: entregar a solução a um regime autoritário, que botaria a tropa nas ruas e faria com que a violência emagrecesse. Mas se o uso de uma força maior resolvesse, os Estados Unidos teriam vencido a guerra do Vietnã, Israel já teria resolvido a ''questão palestina''...
No entanto, se somos pessimistas no diagnóstico, temos de ser otimistas na ação. Portanto, dieta e exercícios já! Ou isso ou continuamos à espera de um remédio milagroso, um político que prometa que vai resolver tudo, sem que tenhamos de fazer nada, a não ser votar nele. Já tivemos essa experiência algumas vezes. Por isso estamos nessa situação.