Dizem que a mentira tem pernas curtas. Parece que as reportagens e entrevistas da Veja também. Perdem a validade rapidinho. De uma semana pra outra não servem nem para embrulhar jornal, como se fazia antigamente.
Semana passada, as páginas amarelas do hebdomadário (veja Maiakovsky) se abriram para o ex-embaixador do Brasil nos EUA Roberto Abdenur. Ele falou mal do Itamaraty e bem do governo. Mas a Veja colocou tudo no mesmo saco de maldades, e sobrou pro governo Lula. Abdenur disse que o Brasil tinha um antiamericanismo atrasado, o que foi contestado em seguida pelo governo Bush, que enviou em missão ao Brasil o subsecretário Nicola Burns.
Mas os jornalões compraram com alegria a versão da Veja. O Estadão chegou a fazer um editorial a respeito. Agora que percebeu que “suas idéias não correspondem aos fatos” parece que mudou de idéia, ao ver que encampou uma mistificação, como eu já havia anunciado aqui numa postagem chamada A entrevista do ex-embaixador do Brasil nos EUA à Veja.
Tanto que hoje o tradicionalíssimo jornal paulista publica uma boa entrevista com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.
Alguns trechos da entrevista:
Como o sr. vê as críticas de Roberto Abdenur, que apontou a existência, no Itamaraty, de uma doutrina anti-Estados Unidos cuja influência se daria até na hora de definir as promoções dos diplomatas?
Houve a transformação de algo burocrático numa coisa política. Abdenur foi embaixador em Washington durante dois anos e oito meses, executando fiel e lealmente a política do presidente Lula, mas orientado por mim. É leviano afirmar que as promoções no Itamaraty obedeçam a critérios ideológicos. Isso é uma ofensa.
Mas há algum viés antiamericano na política externa brasileira?
Como é que uma postura antiamericana pode gerar um interesse tão grande sobre o Brasil? Seria pensar que os EUA são mulheres das peças de Nelson Rodrigues. E obviamente não é o caso. Nossa atitude é pragmática e procura defender o interesse brasileiro. Não há antiamericanismo. Muito pelo contrário. A busca de parceria não é só a discussão em torno de acordos bilaterais como o do etanol, mas a busca de um diálogo sobre o mundo. Se os EUA percebessem uma atitude antiamericana, você acha que isso ocorreria? A melhor resposta está nos fatos.
Aponte, por favor, alguns fatos.
Os contatos intensos do presidente Lula com o presidente George W. Bush, muitas vezes por nossa iniciativa e muitas vezes por iniciativa deles. Sempre de maneira produtiva e amistosa. Por exemplo, na discussão em torno do biocombustível, temos o interesse comum em criar o mercado global do etanol. Isso foi uma iniciativa brasileira. Temos também trabalhado juntos no Haiti, sobre o qual eles nos ouvem muito. Há uma relação madura e positiva em relação aos temas do continente.
A íntegra da entrevista de Celso Amorim ao Estadão está aqui.
Vale a pena ler também o Blog Contrapauta, do jornalista Alceu Nader, sobre esse mesmo assunto.