Os ricos não precisam de programas de transferência de renda. Ela é feita automaticamente.
Os ricos não precisam de rede de proteção. Ela também é feita automaticamente. A única proteção de que precisam lhes é assegurada por uma segurança bem treinada, fortemente armada. Os custos são pendurados na empresa e abatidos do imposto de renda.
Os pobres também contam com programas de transferência de renda. Especialmente no governo Lula, eles estão sendo atendidos como nunca.
Há programas governamentais – o Bolsa Família é o mais conhecido deles – atendendo atualmente a milhões e milhões de famílias.
Também especialmente agora com o governo Lula, há redes de proteção social para proteger os mais pobres.
Mas a ajuda não é só federal. Há programas municipais e estaduais direcionados a eles. Sem contar as infindáveis ONGs que oferecem oficinas e cursos os mais diversos – informática, línguas, esportes, circo, teatro – além de bolsas de estudo.
Ontem, li na revista de O Globo que há até uma escolinha de golfe – é, golfe mesmo, você não leu errado, aquele esporte exclusivíssimo e caríssimo – para crianças pobres.
Enquanto isso, ninguém ama a classe média. Ela paga impostos diretos e indiretos e ainda tem que pagar por todos os serviços de que necessita. Mesmo os que, em tese, lhes estão assegurados pela Constituição.
Escola particular, cursos de línguas, informática, planos de saúde. Tudo isso é pago por ela. Uniforme e material escolar também. Se quiser uma aula de futebol, de dança ou teatro, idem. Golfe, nem pensar. Não se tem notícia de uma única ONG sequer em apoio à classe média.
Por isso a classe média está tão ressentida. Nas cartas dos leitores dos jornais, nos comentários e e-mails que os blogueiros recebemos, esse pote até aqui de mágoa é despejado sem dó nem piedade.
A fúria da classe média se dirige ao(s) governo(s) e agora também aos mais pobres. Assim como em países da Europa crescem discriminação, preconceito e ressentimento contra os estrangeiros, a classe média brasileira está começando a bater seus tambores contra os mais pobres, vistos como folgados, vagabundos, ou mesmo marginais sem recuperação.
Mas é apenas ressentimento. Porque ninguém ama a classe média. Ela só é chamada para dividir a conta. Como os pobres não podem pagar. Como os ricos não querem pagar (e se utilizam de mil artifícios contábeis para isso), o grosso da conta vem morder o bolso da classe média.
Que tal os governos pensarem num pacote de bondades também para ela? Ou será que a classe média vai precisar ficar pobre para ser atendida?