Aconteceu no Maranhão, mas poderia ter acontecido em qualquer outro estado brasileiro. Dois PMs espancaram até a morte um “negro, ladrão, safado”.
O delegado de Costumes, Francisco Castelo Branco, que chegava à delegacia, presenciou quando os policiais tentavam, à base de estocadas de cassetetes, colocar Gerô dentro de um porta-mala do carro da PM:
- Vi e fiquei impressionado. Pedi que parassem, mas não fui atendido. O rapaz estava desacordado, parecia morto, e mesmo assim continuava a ser espancado pelos policiais. Ele estava algemado, com as mãos para trás. Foi quando gritei e chegou uma viatura da Policia Civil e o levamos para o hospital.
Gerô já chegou ao hospital sem vida. O laudo do IML constatou que ele teve quatro costelas quebradas, os rins dilacerados, e vários hematomas na cabeça e braços, inclusive com as marcas das algemas.
Seria uma vitória para essa classe média raivosa e ressentida que preconiza a truculência policial, que acha que o bandido tem que sofrer, tem que apanhar, tem que sentir na pele etc., mas um detalhe estragou tudo. Gerô era negro, mas não era ladrão nem safado. Gerô era o repentista e compositor Geremias Pereira da Silva, casado e com um filho.
Pagou o pato de uma polícia despreparada, insuflada por uma mídia sensacionalista e pelo silêncio cúmplice – muitas vezes o apoio (re)velado - de boa parte da população. Para essas pessoas, o erro dos policiais foi apenas este: Gerô não era bandido. Se fosse, tudo bem. O problema foi esse “detalhe” – exatamente como para o Parreira o gol é um “detalhe” no futebol.
Para esses, parodiando um antigo comercial, a morte de Gerô serve como alerta:
Não faça da sua polícia uma arma, a vítima pode ser você.