Ontem, em artigo publicado na Folha, Fernando de Barros e Silva apontou as edições do Jornal Nacional como uma das causas do aumento da sensação de insegurança na população, revelado em pesquisa do Datafolha.
Parece claro, para dar logo nome aos bois, que a Rede Globo capitaneia, pelo menos desde a morte de João Hélio, uma campanha por "justiça já" que só tende a reforçar, ainda que involuntariamente, o caldo de cultura a favor do aprofundamento das injustiças do país.
Há no ar (e na TV) um clima de "justiça justiceira", uma mistura de clamor punitivo com alarmismo social cultivado pela mídia. Serve como exemplo o reality show macabro protagonizado diariamente em horário nobre pelos pais do menino brutalmente assassinado. O "JN" os transformou em celebridades.
Em carta à Folha, publicada hoje, o diretor-executivo de jornalismo da Globo, Ali Kamel, rebate as críticas, afirma que Fernando foi grosseiro ao chamar os pais do menino João Hélio de “celebridades”. Afirma que a Folha também dá cobertura ao tema violência, e termina:
O leitor da Folha que assiste ao "Jornal Nacional" é testemunha de que a ênfase dos dois veículos, quando o assunto é violência, é bem parecida: ambos cumprem com sua obrigação de informar.
Mas, Kamel, nunca li uma reportagem da Folha sobre o caso do menino assassinado, em que um repórter perguntasse a outro como ele se sentiu ao entrevistar os pais do menino, como William Bonner fez com a esposa Fátima Bernardes no Jornal Nacional.
Informar sobre a violência é uma coisa, espetacularizá-la, é outra, e bem diferente.