Uma confusão envolvendo ameaças de morte a uma blogueira foi o ponto de partida para que Tim O´Reilly – um dos gurus da internet, criador do termo Web 2.0 - decidisse finalmente pôr em prática o que já passava por sua cabeça – e pelas de vários outros internautas, especialmente blogueiros: a criação de um Código de Conduta para os Blogs. A ele se juntou Jimmy Wales, um dos criadores da Wikipedia, e ambos colocaram para discussão um rascunho do que seria esse código.
A versão deles (escrita basicamente por O´Reilly) está aqui (em inglês). Há também uma versão em espanhol, aqui. E uma versão muito resumida, em português, aqui.
No tal rascunho eles propõem o fim dos comentários anônimos (as pessoas terão que fornecer um e-mail válido, embora possam usar pseudônimos); não permitir ataques, ofensas, calúnias ou injúrias; respeito ao direito autoral. Ou seja, nada além de uma relação civilizada. A única novidade, para mim, foi tomar conhecimento da palavra troll, que significa aquela pessoa que freqüenta os blogs para tumultuar, ofender e difamar.
Vai colar? Não sei. Tenho minhas dúvidas. Depois do 10MinutesMail, por exemplo, a noção de e-mail válido perdeu o sentido.
Mas, vou além: há necessidade mesmo desse código?
Em minha opinião os blogs devem crescer livremente, refletindo a personalidade de seu responsável. Ele deve estar subordinado apenas a sua cabeça e às leis do país. Injuriou, caluniou, que responda na justiça.
Meu blog completou dois anos neste último 1° de abril, o dia da Mentira – excelente para iniciar um blog sobre a política e os políticos. De lá pra cá já vi nascerem e morrerem incontáveis blogs. Mas o meu pensamento sobre os blogs e os comentaristas continua o mesmo de uma postagem que fiz, com esse título, em outubro de 2005, e que reproduzo a seguir:
Os Blogs e os Comentaristas
Para muitos dos que ainda não criaram seus blogs, os que o fizeram são apenas, ou bastante, narcisistas.
Não há como negar o narcisismo, mas levanto um outro ponto de vista: mais narcisistas são os que alugam a mulher (ou o marido), os vizinhos, o dono do bar, os colegas de trabalho e a família com suas opiniões sobre tudo e todos, mas não se arriscam a postá-las num blog.
Porque num blog – e aí está o grande barato dele – há a possibilidade dos comentários... E você não sabe nunca quem vai ler aquilo que postou. Muito menos como suas palavras serão interpretadas. Mais ainda: os que o criticarem não o estarão fazendo em particular, mas também para toda a rede...
Você fica nu em público – e sem photoshop...
É um pouco de exibicionismo sim, mas é também dar a cara à tapa, ousar opinar num mundo cada vez mais pasteurizado.
Postar num blog tem um sentido mais amplo que apenas exibir-se: é expor-se ao contraditório. Falamos para ouvir também. Opinamos para ouvir as opiniões dos outros.
Por isso é tão chato quando as pessoas não discutem a postagem que comentam e ficam falando de assuntos que nada têm a ver com ela. Você fala de borboletas, e eles vêm falar que você é Lula ou FHC. Não apreciam nada do vôo...
Fazer o quê? Há os petistas e os antipetistas. Os governistas e os antigovernistas. Ou melhor: a mim me parece que são os antipetistas contra os antiantipetistas. E os antigovernistas contra os antiantigovernistas. Porque essas pessoas são apenas do contra, do “anti”, não querem o diálogo, a opinião diferente.
É uma pena. Porque com os grupos de comunicação cada vez mais nas mãos dos grandes conglomerados, a notícia independente vai estar cada vez mais na rede.
Sorte sua, leitor, que sabe aproveitá-la. Azar de quem ainda não o faz – mas que, espero, com o tempo aprenderá. [Atualização: esta expectativa não tenho mais. Para muitos comentaristas os blogs são apenas mais um local para descarregarem suas insatisfações, seus ressentimentos, num estranho exibicionismo]