Aproveitando o fato de que estamos em plena comemoração da Semana Santa cristã, publico este trecho do artigo de hoje do jornalista Zuenir Ventura, de O Globo, sobre o rabino Henry Sobel, que vem sendo achincalhado por muitos.
Não sou judeu, mas nesse caso de Sobel, sim, sou judeu – se é que me entendem.
Clique aqui e receba o Blog do Mello em seu e-mailHá 35 anos à frente da Congregação Israelita Paulista, Sobel teve algumas atitudes cívicas cujas dimensões transcenderam a comunidade judaica. Ao desobedecer os militares e se recusar corajosamente a sepultar como suicida o jornalista Vladimir Herzog, torturado e assassinado nas dependências do II Exército em 1975, ele ajudou a apressar o fim da ditadura. Pela tradição judaica, o suicídio é crime, e quem o comete deve ser enterrado fora do cemitério.
Pois ele não só tomou a decisão de sepultá-lo numa área nobre do cemitério israelita, como presidiu a solenidade. A denúncia era indireta, mas o país entendeu o que ele queria dizer com o gesto - que a versão oficial era mentirosa, que o governo torturava e matava em seus quartéis.
Sete dias depois, uma cerimônia ecumênica em memória de Vlado, celebrada conjuntamente pelo cardeal de São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns, por D. Hélder Câmara, pelo pastor James Wright e por Henry Sobel, transformou-se num poderoso protesto contra a ditadura. A partir de então, o rabino promoveu importantes ações que aproximaram as religiões, incluindo a muçulmana. A democracia e o ecumenismo muito devem a ele.