Estão querendo empurrar a culpa pelo acidente que envolveu o jato Legacy da empresa americana ExcelAire e um Boeing da Gol para as costas dos controladores de vôo brasileiros. O motivo é um só: o pagamento das milionárias indenizações às famílias das 154 vítimas do acidente – todas passageiros e tripulantes do Boeing da Gol.
No entanto, todos os laudos vão confirmando aquilo que já se sabe desde o início. O jatinho Legacy, pilotado pelos americanos Lepore e Paladino, voava desde São José dos Campos com destino a Manaus. O transponder (equipamento que transmite informações precisas sobre avião e vôo) funcionava normalmente. Até que, exatamente quando sobrevoava Brasília, o transponder pára de funcionar. A comunicação entre os americanos e o centro de controle de vôos, que estava em pleno funcionamento, também é misteriosamente interrompida. E isso acontece no instante em que os americanos não cumprem uma determinação do plano de vôo, a de mudança de altitude na entrada em Brasília. Vem o acidente e, milagrosamente, transponder e comunicação voltam a funcionar.
Não há relato de que algo semelhante tenha acontecido a qualquer outra aeronave que sobrevoava nosso espaço aéreo naquele instante. Portanto, o foco das investigações deve ser: por que transponder e comunicação não funcionaram durante aquele período, se estavam OK antes de Brasília e assim voltaram a ficar após o acidente? Falha do equipamento ou falha dos pilotos?
Foram realizados testes nos equipamentos. Eles estavam funcionando perfeitamente. Logo, o problema aconteceu com os pilotos americanos. E é para livrar a cara deles que vêm sendo expelidos documentos e aconselhamentos por diferentes órgãos americanos, de tempos em tempos.
A novidade da hora vem de um relatório do Conselho Nacional de Segurança dos Transportes dos Estados Unidos (NTSB, na sigla em inglês). Segundo o NTSB, o transponder, embora em perfeito estado (sic), não estava funcionando no momento do acidente porque estava em standby (quem o colocou em standby?...). Segue dizendo que este aviso estava escrito no painel da aeronave, mas os pilotos não perceberam (distraídos, não?). Então, sugere que um aviso sonoro ou equivalente passe a acompanhar o aviso visual.
Receitam, como se isso fosse uma falha do transponder do Legacy (não custa lembrar que o jatinho é fabricado pela Embraer). Só que o alerta unicamente visual é padrão em todos os aviões do mundo. Portanto, os pilotos sabem que têm de ficar de olho no monitor. Durante o intervalo de uma hora entre a perda de contato e o acidente, eles tiveram bastante tempo para olhar o monitor, mas não o fizeram.
Logo, concluem americanos, pilotos e seus advogados, os controladores do Brasil teriam de se comunicar com eles para avisá-los:
- Ei, acorda, se liga, o transponder está desligado!
Mas, como, se também não havia comunicação via rádio entre o jatinho e o Cindacta? Já li duas versões sobre o fato: uma diz que o rádio estava no volume mínimo (quem o teria diminuído?). A outra, que ele estava sendo operado em freqüências erradas (mais uma vez, quem?).
De qualquer maneira, querem nos fazer crer (e nossa bela mídia faz um grande esforço para que eles o consigam) que o problema aconteceu por causa dos nossos controladores, que não são nenhuma Brastemp, e por culpa de nosso sistema de controle aéreo (nós um país de botocudos e tupiniquins). Dão a entender que é um problema nosso, que se fosse nos Estados Unidos o acidente não aconteceria.
No entanto (e sobre isso a nossa grande mídia não dá uma palavra), nem um mês após o acidente aqui no Brasil, um aviãozinho deu um passeio por Nova Iorque e resolveu “estacionar” no meio de um prédio. Os controladores e o controle de vôo da maior potência do mundo (ainda por cima vivendo a paranóia do 11 de setembro) bateram cabeça, como mostra a reportagem da CNN acima.
Portanto, não me venham com essa. Tirem a mão do meu bolso, porque o que eles querem é que a culpa recaia sobre nosso controle do vôo, para que todos nós, brasileiros, tenhamos que pagar agora com dinheiro (das indenizações) o que antes já pagamos com as 154 vidas de brasileiros, que morreram simplesmente porque os americanos não leram o aviso no painel que afirmava que o transponder estava em standby.
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