Tenho insistido aqui na importância de se prestar atenção na tentativa de agendamento (agenda-setting) efetuada pela mídia.
Exemplo típico disso é a forma como todos os jornalões (impressos e TV) chamam o término das transmissões da RCTV na Venezuela. Para eles, Chávez mandou fechar a emissora, porque lhe fazia oposição. Isso é repetido todos os dias, o dia todo, por todos eles.
No entanto, não esclarecem por que diabos Chávez não fez isso logo após ter retomado o poder, de onde fora retirado por pouco tempo, vítima de um golpe de Estado em 2002, insuflado e patrocinado pela mídia venezuelana – RCTV à frente?
A resposta é clara: Simplesmente porque Chávez não mandou fechar a RCTV. Ou, usando o método deles: Chávez não mandou fechar a RCTV. Chávez não mandou fechar a RCTV. Chávez não mandou fechar a RCTV. Chávez não mandou fechar a RCTV.
Como no Brasil, as emissoras de TV na Venezuela operam sob licença (e esta é a razão de a Globo gritar tanto contra o fim das transmissões da RCTV). São uma concessão pública. Por isso devem obedecer a certas normas. Ao final do prazo da concessão, se tiverem agido conforme as regras, ela é renovada. Caso contrário, não.
E foi o que aconteceu com a RCTV. Ela descumpriu as normas - entre otras cositas, patrocinou o golpe de Estado em 2002 -, por isso não teve a concessão renovada.
Não houve fechamento. O golpe contra Chávez (RCTV à frente) foi há cinco anos. Em respeito à lei, ele aguardou o término do período da concessão para, de acordo com a lei, não renová-lo. Apenas isso.
O que a grande mídia brasileira não engole é que ele tenha tomado lá a medida que poderia ter sido tomada aqui, em outras oportunidades, mas nunca o foi, graças ao famoso jeitinho brasileiro.
Por aqui, parlamentares são donos de emissoras de rádio e TV (o que é proibido por lei), grupos controlam rádio, jornal e TV num mesmo Estado (como a hegemônica Globo no Rio – o que também é proibido), e fica por isso mesmo.
Por isso a grita. Têm medo de que aconteça por aqui o que aconteceu por lá. O que eles temem de Chávez é isto: o exemplo.