Na segunda-feira fiz uma postagem aqui chamada RGTV e RCTV: Tudo a ver. Nela, citava trecho de uma palestra de Paulo Henrique Amorim envolvendo os nomes de Roberto Marinho, José Sarney e Maílson da Nóbrega. Amorim afirmava que Maílson só assumiu após o OK de Roberto Marinho. Fui à fonte:
Eis o trecho da entrevista de Maílson da Nóbrega a Carlos Alberto Sandenberg, publicada na edição de março de 1999 da revista Playboy (assinantes podem ter acesso à íntegra da entrevista aqui), que confirma as palavras de PHA:
Clique aqui e receba gratuitamente o Blog do Mello em seu e-mailPLAYBOY: Mas, voltando na história, que traz tantas dicas para o presente, como o senhor se tornou ministro da Fazenda?
MAILSON: Em dezembro de 1987 eu era o secretário-geral do Ministério da Fazenda e o ministro era o Luiz Carlos Bresser Pereira. Um belo dia ele se demitiu e o presidente José Sarney me convidou para assumir interinamente. Ele me disse: "Vai tocando enquanto decido o que fazer". Como eu estava dentro da máquina, comecei atuando como se fosse o ministro. Tinha um grande problema com os exportadores, por exemplo. O governo queria acabar com a isenção do imposto de renda na exportação. Os exportadores reclamaram. Fiz uma bruta reunião em Brasília com todos os interessados e chegamos a uma solução. A negociação foi um grande sucesso e naquela noite fui convidado pelo [jornalista] Paulo Henrique Amorim para fazer um pingue-pongue ao vivo no Jornal da Globo. A entrevista repercutiu pra burro. No outro dia o presidente me ligou dizendo que tinha gostado muito. Daí começaram as especulações de que eu seria efetivado. Uns dias depois, o presidente me convidou para ir ao Curupu, uma ilha no Maranhão onde ele tem uma residência de praia. Fui num avião da FAB e, quando cheguei a São Luís, estava uma festa. Os jornais e as TVs tinham lá seus enviados especiais porque todo mundo especulava que ali ia surgir o convite. Conversei umas 6 horas com o presidente. Ele me convidou, mas disse que nada poderia ser anunciado ainda porque precisava aparar algumas arestas.
PLAYBOY: Disse quais eram?
MAILSON: Não, mas a aresta era o [presidente das Organizações Globo] Roberto Marinho, que tinha outro candidato para o cargo, o Camilo Calazans [um quadro da área econômica com a mesma origem de Mailson, o Banco do Brasil].
PLAYBOY: Quem lhe contou?
MAILSON: Eu deduzi. Naquele dia, de volta a Brasília, fui ver os noticiários e não tinha saído nada no Jornal Nacional. Nada. E eu tinha visto a equipe da Globo em São Luís. Falei com o repórter. Aí fiquei com a pulga atrás da orelha. Conversei com algumas pessoas e todas me disseram que só podia ser porque Roberto Marinho estava trabalhando por outro nome.
PLAYBOY: O senhor reagiu, se articulou?
MAILSON: Sinceramente, não. O presidente tinha dito que o problema era dele. Continuei tocando. No dia 5 de janeiro [de 1988], o presidente me ligou perguntando: "O senhor teria algum problema em trocar umas idéias com o Roberto Marinho?" Respondi: "De jeito nenhum, sou um admirador dele, até gostaria de ter essa oportunidade".
PLAYBOY: Nunca tinha conversado com ele até essa data?
MAILSON: Não. A Globo tinha um escritório, em Brasília, no Setor Comercial Sul. Fui lá e fiquei mais de 2 horas com o doutor Roberto Marinho. Ele me perguntou sobre tudo, parecia que eu estava sendo sabatinado. Terminada a conversa, falou: "Gostei muito, estou impressionado". De volta ao Ministério, entro no gabinete e aparece a secretária: "Parabéns, o senhor é o ministro da Fazenda". Perguntei: "Como assim?" E ela: "Deu no plantão da Globo" [o Plantão do Jornal Nacional].
PLAYBOY: Quanto tempo o senhor levou da sede da Globo para o Ministério?
MAILSON: Uns dez minutos. Ou seja, em dez minutos o Roberto Marinho ligou para o presidente, estou supondo, porque o presidente nunca me contou nada. Imagino que conversaram e o presidente deve ter dito que então eu seria o ministro. E aí valeu o instinto jornalístico do Roberto Marinho e ele tocou no plantão.
PLAYBOY: O senhor ainda não tinha a confirmação do próprio presidente?
MAILSON: Logo tocou o telefone e era o presidente me chamando ao Planalto. Cheguei lá e ele já estava com o ato de nomeação pronto. Assinou na minha frente. Daí foi tudo divulgado. Naquele dia fui dormir com aquela sensação: "Meu Deus do céu, como?" Pode soar um pouco piegas, mas parecia um negócio de conto de fadas, considerando minha origem, a trajetória, tudo. Fui dormir entre tenso e alegre.