Um erro humano está na origem do pior acidente aéreo da história da aviação brasileira. As informações já obtidas por meio da análise das caixas-pretas do Airbus A320 da TAM – que no último dia 17 se chocou contra um prédio da companhia, causando a morte de 199 pessoas – indicam que o avião, ao pousar, não conseguiu desacelerar o suficiente por causa de um erro do comandante do vôo.
Assim começa reportagem da Veja deste final de semana. Parece que estão tentando dar ao trágico acidente com o Airbus A320 da TAM o mesmo final clichê dos antigos romances policiais, quando o culpado era sempre o mordomo – no caso, o piloto.
Segundo a Veja, quem comandava a aeronave no momento do povo era o comandante Kleyber Lima, e não o co-piloto Henrique Stephanini Di Sacco, como muita gente suspeitava – inclusive eu. Stephanini tinha pouca experiência com o Airbus e fora demitido da Gol, após apenas três meses de trabalho, por motivo não revelado pela companhia. Daí a suspeita sobre ele.
Ainda segundo a reportagem da Veja, o comandante Kleyber teria cometido o erro de não colocar o manete na posição de marcha lenta, conforme determinaria manual do Airbus, em caso de não funcionamento do reverso. Como não o fez, aconteceu o que se viu em Congonhas: enquanto um lado tentava parar o avião, o outro o acelerava. Deu no que deu.
Só que, como eu já havia adiantado aqui, três dias após o acidente, acidentes como esse já se repetiram com outros aviões do mesmo tipo. E a culpa não pode ser jogada apenas no piloto, como demonstrou Marcelo Ambrosio, em seu Blog Slot, que eu comentei aqui.
A reportagem da Veja mostra também que o mesmo “erro” foi cometido pelos pilotos de ao menos outras duas aeronaves do mesmo modelo, o A320 da Airbus. Fica claro que se o mesmo tipo de erro se repete, não se pode colocar a culpa apenas no piloto, mas na interação homem-máquina. O erro já deveria ter sido corrigido pela Aerospatiale, que fabrica o Airbus. Ou vão esperar um próximo acidente?
Não se pode abandonar também a TAM nesse episódio. A empresa afirma agora que o Airbus iria para a manutenção para consertar o reverso, imediatamente após aquela viagem, e que esse tipo de conserto só pode ser feito em São Paulo. No entanto, o mesmo avião que explodiu havia pousado em Congonhas um dia antes. Por que não foi recolhido e enviado para manutenção? A TAM afirma que o manual diz que o avião pode ficar sem o reverso por até dez dias.
Mas problemas com aviões da TAM estão se repetindo diariamente. Só para ficarmos no modelos Airbus A320, ontem um apresentou falhas no ar condicionado e na turbina número um. Na quinta-feira, também um Airbus que saiu de Maceió, com destino a São Paulo e escala na capital sergipana, não pôde seguir viagem porque o computador de bordo apresentava problemas. Outro teve de fazer manutenção preventiva não programada na noite de quarta-feira.
Fato é que já começou a guerra das versões. No primeiro momento, lança-se logo a culpa no mordomo, quer dizer, no piloto. O que não é novidade. Foi o que aconteceu no primeiro acidente com um Airbus, que é uma história escabrosa, cheia de contradições, fraudes e reviravoltas, que eu vou contar numa outra postagem.
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