Reportagem da Folha, assinada pelos repórteres Leila Suwwan, Fernando Rodrigues e Valdo Cruz, informa que a “caixa-preta de dados do Airbus-A320 acidentado em Congonhas revela que os pilotos Kleyber Lima e Henrique Stephanini di Sacco acionaram corretamente os manetes que aceleram as turbinas no pouso anterior, em Porto Alegre”.
No pouso da tragédia, o gravador registra que o manete da turbina direita (que tinha o reversor inoperante e pinado) não se movimentou nem sequer um grau, permanecendo em ponto de alta aceleração.
Foi essa leitura que levou o computador a desativar o acionamento automático dos freios aerodinâmicos das asas, impediu a frenagem, manteve a aceleração e levou o avião a ultrapassar a pista, deixando 199 mortos. A caixa-preta mostra que não houve defeito no sistema de frenagem automática.
Isso indica não apenas que os pilotos sabiam o que deviam fazer, como já haviam realizado o procedimento de forma correta algumas horas antes, no pouso anterior, o que torna ainda mais inverossímil a hipótese de que eles tenham cometido o erro bisonho ao tentar pousar o avião lotado, com passageiros de sobra, carga quase até o limite e com combustível que seria suficiente para um retorno a Porto Alegre sem necessidade de abastecimento.
No entanto, segundo os dados das caixas-pretas a que a Folha teve acesso, foi exatamente o que ocorreu.
"Esquecer" o manete nessa posição durante um pouso é considerado por pilotos um erro primário e improvável. Assim, há a hipótese de que o manete teria sido movido corretamente, mas por algum motivo isso não foi detectado. A falha pode ser eletrônica, dos sensores ou até mecânica.
Os dados revelam que também não houve alteração alguma na posição dos manetes, mesmo quando o co-piloto grita “desacelera, desacelera”. Essa não movimentação é ainda mais estranha porque, na linguagem dos pilotos, o uso do verbo desacelerar está relacionado à potência das turbinas, o que determinaria uma tentativa de mover os manetes. Não registro desse movimento e isso está relacionado à fala do piloto: “Não dá, não dá, não dá”.
Ainda segundo a mesma reportagem, há ainda mais mistérios a serem desvendados. Logo que o avião toca o solo, o comandante percebe que os spoilers não armaram e grita “Ai, olha isso”. No entanto, na caixa-preta não há registro de movimento algum dos gráficos. Isso confirmaria minha postagem de domingo:
Ele pede ao piloto para desacelerar. "Desacelera, desacelera". O piloto tenta. Mas o computador não deixa o manete se mover. Aí, é a surpresa: “Olha isso”. O piloto faz força, mas nada acontece. Aí vem o “(Ele) não pode, (ele) não pode” Ou então: "Não dá, não dá." E não pode (não dá) porque o computador do avião não deixou.
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