Outro dia o diretor de jornalismo da rede Globo, Ali Kamel, escreveu um artigo elogiando a independência da “grande imprensa”. Criou até um axioma que pode ser enunciado assim: quanto mais anunciantes, mais independente é a empresa de comunicação.
Não se pode acusar O Globo de não diversificar sua carteira de anunciantes. Na parte dos Classificados, eles têm uma seção chamada “Encontros Pessoais”.
Selecionei dois desses anunciantes, que ajudam a garantir a independência de O Globo (página 9):
ÂNGELO & Brayan (lindíssimos, rosto, corpo perfeitos) prestigiadíssimos, sedutores, realizando inesquecíveis fantasias p/ cavalheiros/casais (juntos/separados), altíssimo nível/discreto.Tel:
BEATRIZ 27a (Recreio) Que tal? Você homem verdadeiro, deixar-se conduzir p/ bela mulher, provida d/todo conteúdo p/fazer fluir seus +íntimos instintos. Tel:
Repito: Esses são alguns dos classificados, selecionados entre dezenas deles, publicados no Globo diariamente.
Não sou advogado. Não sei nem se a lei e os artigos em que baseio esta postagem estão caducos. Por isso, gostaria de saber, caso ainda estejam em vigor:
. Os anúncios não estão facilitando a prostituição, infringindo, portanto, o Art 228 ("Induzir ou atrair alguém para a prostituição, facilitá-la ou impedir que alguém a abandone")?
. Os anúncios não estão tirando proveito da prostituição alheia (já que são pagos), infringindo o Art 230 ("Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente dos seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça")?
. O Globo, ao publicar os anúncios, não está "fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a [prostituição] exerça", infringindo o mesmo Art 230?
Ainda que tudo isso seja legal, que o jornal alegue que não pode garantir que se trata de prostituição (embora todos saibamos que é disso que se trata), é moral, é ético faturar em cima da prostituição?
O que o jornal escravo dos fatos tem a dizer?
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