E a nomeação de Carlos Alberto Direito para o STF passou. O que é péssimo para os que lutam contra a descriminalização do aborto e pelo direito à pesquisa com células-tronco. Direito é um católico fervoroso e por isso sua nomeação provoca arrepios em quem defende esses outros direitos.
Ontem, em sua sabatina no Senado, Direito afirmou que jamais deixará de cumprir as leis aprovadas pelo Congresso. Como se isso fosse uma concessão. É chover no molhado. Na verdade, ele é obrigado a cumpri-las. Aliás, como todos nós.
Mais adiante, ele fez a seguinte ressalva, quando perguntado sobre a questão da pesquisa com células-tronco:
- Deve ser preservada a vida em qualquer circunstância, mas não se pode coibir que a ciência avance. Não se pode admitir que a fé limite a ciência nem se pode admitir que a ciência agrida a fé.
Alguém aí conseguiu entender o que ele quis dizer? Por que existe um mas entre a primeira frase e a segunda? O que ele quis dizer com “nem se pode admitir que a ciência agrida a fé”?
Ciência e fé, como água e óleo, não se misturam. Como, então, a ciência poderia agredir a fé? Quando? Quando Galileu afirma que é a Terra que gira em torno do Sol e não o contrário?
Ah, e apenas para não passar em brancas nuvens. Carlos Alberto Direito, o novo ministro do STF, foi também secretário de Educação no governo de Moreira Franco aqui no Rio. Foi ele quem começou o desmonte do programa dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEP), conhecidos como brizolões, as escolas públicas idealizadas por Darcy Ribeiro, projetadas por Oscar Niemeyer e que eram a menina dos olhos do ex-governador Leonel Brizola.
Para quem não conhece ou não se recorda do que foram os CIEPs, aqui vai esse resumo, retirado da Wikipedia:
O horário das aulas estendia-se das 8 às 17 horas, oferecendo, além do currículo regular, atividades culturais, estudos dirigidos e educação física. Os CIEPs forneciam refeições completas a seus alunos, além de atendimento médico e odontológico. A capacidade média de cada unidade era para mil alunos.
O projeto objetivava, adicionalmente, tirar crianças carentes das ruas, oferecendo-lhes os chamados "pais sociais", funcionários públicos que, residentes nos CIEPs, cuidavam de crianças também ali residentes.
Desmontar um projeto desses - para ficar na linguagem do novo ministro - é pecado.
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