Na terça, o diretor de jornalismo da Rede Globo Ali Kamel, em artigo publicado no Globo (hoje reproduzido no Estadão), condenou a utilização do livro Nova História Crítica, adotado pelo MEC e escolhido por dezenas de milhares de professores de todo o Brasil. Mas, menos do que uma aula de história, o artigo de Kamel é uma aula do tipo de jornalismo que pratica e que denunciei aqui no Tico Tico no fubá da mídia golpista.
“Aí omito aqui, aí aumento lá,
Distorço tudo pra melhor manipular”.
Para quem não leu o artigo de Kamel, resumo. Ele começa de modo divertido, já pela escolha do título “O que ensinam às nossas crianças”. Pensei que Kamel fosse criticar a programação infantil da Globo, centrada no programa da Xuxa, cheio de desenhos educativos, informações culturais relevantes e incentivo ao consumo responsável, como no impagável anúncio de algum produto da Xuxa, em que as criancinhas cantavam alegremente “Eu tenho, você não te-em. Eu tenho, você não te-em”...
Mas estava enganado. Kamel nos informa, logo de início, que recebeu um livro das mãos do psicanalista Francisco Daudt. Deve ser amigo de Kamel. Talvez até seja seu psicanalista. Não sei. Mas, como num antigo slogan da Globo: Kamel e Daudt, tudo a ver. Porque o psicanalista é aquele que, em seguida à tragédia com o Airbus da TAM em Congonhas, escreveu um artigo na Folha que começava assim:
Gostaria imensamente de ter minha dor amenizada por uma manchete que estampasse, em letras garrafais, "GOVERNO ASSASSINA MAIS DE 200 PESSOAS".
Bom, o Kamel, em parte, fez a vontade dele, pois, logo de cara, a Globo convocou vários especialistas para testarem a hipótese de que a culpa da tragédia era do governo Lula.
Voltemos ao livro. Após a leitura, Kamel confessa que ficou horrorizado. Diz que o livro quer inculcar na cabeça dos jovens que o socialismo é a solução para todos os problemas. E escolhe trechos do livro que comprovariam sua tese. Omite todas as que vão de encontro a ela, mas que o autor do livro, o professor de História Mario Schmidt, mostra que estão lá.
Em resposta ao artigo de Kamel, publicada no Portal Vermelho, o professor nos informa o que Kamel omitiu. E então o artigo cai por terra, pois, pelo material divulgado pelo professor, seria possível escrever um artigo com sentido oposto ao de Kamel.
Por isso é que falei, no início, que, na tentativa de criticar um livro de História, o professor Kamel dá uma aula de seu tipo de jornalismo.
Já há algum tempo, ele vem tentando reescrever a História. Inicialmente, apenas a da Globo, que na versão Kamel não manipulou a edição do debate Lula-Collor, não escondeu a imensa manifestação da praça da Sé pelas Diretas etc.
Em sua visão peculiar da História, por exemplo, Kamel afirma que no Brasil não há racismo, mas pode passar a ter, a partir da política de cotas e das ações afirmativas do movimento negro.
Recentemente, publicou novo livro, em que afirma, a certa altura, que, de acordo com as informações do momento, foi legítima – mais que legítima, necessária – a invasão do Iraque pelos EUA. Bush teria usado apenas de seu científico direito de testar hipóteses, quando mandou bombardear e ocupar o Iraque, causando a morte de um milhão de iraquianos, até o momento.
Mas o que mais me intrigou no artigo de Kamel foi seu final. Ele diz que “algo precisa ser feito, pelo ministério, pelo congresso, por alguém”.
Quem ou o que seria esse alguém?
O leitor quer testar hipóteses?
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