A Rede Globo publicou anúncio em diversos jornais onde acusa a Folha de "distorcer fatos'', "inventar mentiras'', "violar a ética jornalística'' e "caluniar a emissora''. O mesmo anúncio foi divulgado em sua programação. Qual o motivo para tanta histeria?
A Folha noticiou que o PPB e o PT de São Paulo entraram com representação na Justiça Eleitoral, alegando que seus candidatos estão sendo prejudicados na inserção de anúncios eleitorais na programação da Globo. O PSDB do Rio, com suspeita semelhante, já havia solicitado uma medição dos anúncios na programação carioca, fato também denunciado pela Folha. Nos dois casos o jornal procurou registrar, como é da sua praxe, a versão da emissora.
É normal que existam controvérsias desse tipo em tempo de eleições. Mais do que normal, é necessário que a imprensa independente as leve ao conhecimento do eleitor. A decisão, como é óbvio, cabe à Justiça Eleitoral, por meio de seus magistrados. Mas a Globo não está acostumada com democracia.
A emissora carioca pode não entender nada de democracia, nem de jornalismo, mas é especialista em manipulação eleitoral. Fez campanha contra o Movimento Diretas-Já, vendo-se obrigada a aderir na última hora, quando seus veículos já não podiam circular sem sofrer hostilidade da população. No desespero de evitar uma vitória de Leonel Brizola na eleição para governador do Rio, a Globo já havia se envolvido no escândalo Proconsult, uma das maiores vergonhas na história política recente. Mais tarde, praticou a edição criminosamente deformada do debate entre os candidatos Collor e Lula, com vistas a eleger o primeiro, a quem apoiou durante toda a campanha.
Não é por acaso que qualquer cidadão bem informado suspeita de novas manipulações por parte da Globo.
É no mínimo risível que a emissora venha falar em ética. A Globo foi feita com capital estrangeiro em flagrante violação da lei. Essa é a origem de sua vantagem sobre as demais emissoras que até hoje tentam, corajosamente, fazer-lhe concorrência. A Globo cresceu no apoio subserviente aos governos militares, beneficiando-se de todo tipo de favores, concessões, privilégios e negócios duvidosos. Urdiu uma rede de poder, ameaças veladas e atividades suspeitas por todo o país. Pretende agora estender seu monopólio virtual sobre toda a comunicação, açambarcando também as novas mídias.
O que é bom para a Globo não convém ao Brasil. É positivo que exista um jornal capaz de dizer não ao monopólio, à mistificação e à fraude. A Folha se orgulha de cumprir esse papel.
assina: Folha de S.Paulo
Editorial da Folha de S.Paulo, publicado como anúncio, em 20 de setembro de 1996. (a dica foi do Blog Afinsophia)
O que será que a Folha tem a dizer hoje, quando estamos próximos do dia 5 de outubro, dia em que vencem várias concessões da Globo (as mais importantes: Rio, São Paulo, Minas Gerais, Brasília e Pernambuco), essa Rede que, como diz a Folha no editorial, não entende “nada de democracia, nem de jornalismo, mas é especialista em manipulação eleitoral”, que “Fez campanha contra o Movimento Diretas-Já”, que se envolveu no “escândalo Proconsult, uma das maiores vergonhas na história política recente”, que “praticou a edição criminosamente deformada do debate entre os candidatos Collor e Lula, com vistas a eleger o primeiro, a quem apoiou durante toda a campanha”?
Por que a Folha não reitera o que escreveu no último parágrafo e diz “não ao monopólio, à mistificação e à fraude”? Mudaram os fatos ou mudou a Folha?
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