O professor Ali Kamel, diretor de jornalismo de Rede Globo, aquele que ensina que não existe racismo no Brasil (mas, segundo ele, pode vir a existir, caso o movimento negro continue a defender a política de cotas); que Bush fez bem em testar a hipótese da existência de bombas no Iraque e, por isso mesmo, bombardear e invadir aquele país; que a Globo errou por incompetência e não por má-fé no escândalo Proconsult, em 1982; que não manipulou desavergonhadamente a edição do último debate entre Lula e Collor na eleição de 1989; este Kamel, para justificar a cobertura que o Jornal Nacional fez do acidente com o Airbus da TAM em Congonhas, disse que eles apenas estavam “testando hipóteses”.
"A grande imprensa se portou como devia. Como não é pitonisa, como não é adivinha, desde o primeiro instante foi, honestamente, testando hipóteses, montando um quebra-cabeça que está longe do fim".
Mas nem sempre Kamel age assim, testando hipóteses. Por exemplo: no ano passado, às vésperas do primeiro turno das eleições presidenciais, a Globo recebeu do delegado Bruno as fotos do dinheiro apreendido pela Polícia Federal, no polêmico caso do dossiê. Embora dispusesse do material desde cedo, a Globo aguardou o JN para que a notícia pudesse ser mais espetacular.
Mas aí, às 18h50, acontece o terrível acidente envolvendo o Boeing da Gol e o jatinho da ExcelAire. A Globo recebeu a notícia, ainda incompleta e vaga, mas se ela fosse ao ar na mesma edição disputaria a atenção do público com a montanha de dinheiro. E aí, em vez de testar hipóteses, como no acidente da TAM, o que fez Kamel?
"As primeiras informações sobre o desaparecimento de um avião nos chegaram quando o JN já estava havia muito no ar (o telejornal teve início às 20h). Imediatamente, nossas equipes saíram à cata de informações, que eram escassas e sem confirmação. Seria um avião de passageiros que estava desaparecido ou atrasado? Ele era da Gol ou da Embraer? Ele sumiu em Mato Grosso, indo para Brasília, ou no Pará, indo para Manaus? Em nossas redações, foi aquela correria, mas todos tínhamos uma convicção: só poríamos a informação no ar quando tivéssemos certeza dela."
Por que agiu assim? O leitor quer testar hipóteses?
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