O que estou vendo de surpresas, de ohs e ahs com o caso da menina no Pará... Por que o espanto? É uma barbaridade? Sem dúvida. Mas essa barbaridade é defendida diariamente nos editoriais, nos pitblogs, na imprensa indecente, nas seções de Cartas dos Leitores dos principais jornais e revistas do país.
É claro que ninguém diz com todas as letras que quer ver presas menores de idade trancadas com marmanjões em cadeias imundas no interior do Pará. O que se diz é “Não me falem em direitos humanos de presos, isso é papo de intelectual. Bandido tem que pagar”.
Não dizem como, mas imaginam. Ou melhor, nem imaginam, porque nem querem pensar nisso. Afinal, cadeia no Brasil, ainda em sua maior parte, é feita apenas para os PPP, pretos, putas e pobres. Então, pra que pensar numa melhoria de condições de vida nas prisões e presídios, se nós não iremos pra lá?
Tenho uma má notícia para quem pensa assim. É bom começar a se preocupar. Cada vez mais jovens de classe média, e até de “alta classe”, estão sendo presos. Só aí os pais desses jovens começam a ter contato com a realidade que nunca quiseram ver.
As revistas são feitas por homens, não importa o sexo do preso. Você, leitor amigo, já imaginou sua filha sendo revistada pelo policial ou carcereiro?
Mas não é apenas isso, caro leitor. Seus problemas não acabaram. Já imaginou “sua patroa” ou sua mãe sendo revistada por um deles também? Pois imagine, porque se uma delas quiser visitar o pimpolho ou a pimpolha na delegacia ou no presídio terá que passar por essa mesma revista.
É como diz o delegado titular da Divisão de Capturas da Polícia Civil do Rio (Polinter), Herald Paquete (sic) Espínola Filho:
- A lei não diz que a revista tem que ser feita apenas por mulheres. Não vou perder meu tempo comentando isso.
Na mesma reportagem de O Globo em que há a declaração do delegado sem tempo, Vera Lúcia Tostes, que é coordenadora da Pastoral Carcerária do estado do Rio e presidente do Conselho da Comunidade relata outros casos de maus-tratos, como a falta de absorventes, o que leva presas a usar até miolo de pão. Para obterem material higiênico ou ter proteção, presas têm relações sexuais com funcionários e funcionárias ou com outras presas.
É comum que jovens detidos para cumprir medidas sócio-educativas (na maioria das vezes, apenas presos mesmo) implorem para que suas mães não os visitem para que não sejam submetidas à revista degradante (preciso descrever?). Se alguém defende um tratamento mais digno para esses jovens e suas mães, pronto, lá vêm as matérias editorializadas, as Cartas dos Leitores descendo o pau “nesse pessoal que defende os direitos humanos dos presos”.
Depois se espantam com notícias como as do Pará. E com a tranqüilidade com que delegados tratam do assunto. No Pará, disseram apenas que não havia cadeia separada...
Se querem continuar como os três macaquinhos, com as mãos, os olhos e os ouvidos fechados, que o façam. Mas nos poupem do espanto hipócrita.
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