As pessoas estão indignadas. Bom, mas isso é comum no Brasil, até aí morreu o Neves, como se dizia. No Brasil, as pessoas ficam indignadas num dia, no outro dia comentam as maldades da protagonista da novela, a barriga do Ronaldinho, mais uma separação da Adriane Galisteu, depois vem o novo casamento dela, e aí já é domingo, e é bom relaxar e não esquentar muito a cabeça, porque amanhã é segunda-feira, e aí, você sabe como é que é, né? Mas, tergiverso.
Dizia que as pessoas estão indignadas, e o motivo dessa indignação atual é o roubo de doações aos flagelados de Santa Catarina. Soldados e voluntários foram flagrados metendo a mão nos donativos enviados de todo o Brasil para os brasileiros daquele estado, que sofreram o diabo com as últimas enchentes.
Ô raça! Brasileiro é tudo safado! Não é o que se costuma dizer? Mas esse brasileiro – como o inferno sartreano – ó o outro. Postei aqui ainda outro dia a informação de que representantes dos moradores de Ipanema e Leblon se reuniram com o secretário da Ordem Pública (sic) para reivindicar ordem urbana: nada de mesas irregulares pelas calçadas, nem mendigos, carros estacionados em local proibido, nada de camelôs e comércio irregular. Ao final da reunião, famintos, todos foram forrar o estômago numa carrocinha de cachorro-quente irregular.
Pesquisa Ibope, do início de 2006, que comentei em “Pesquisa Ibope mostra brasileiros ao Brasil” (ainda vale a leitura), traça um retrato desse comportamento do brasileiro, no caso, comparando-o ao dos políticos (o nome da pesquisa era "Corrupção na Política: Eleitor Vítima ou Cúmplice"). Mas, os políticos são ladrões, não?
Os políticos são ladrões, os síndicos são ladrões, os donos das escolas de nossos filhos, os médicos, os advogados, juízes, todos ladrões - desde que não sejamos nenhum desses personagens, porque nós somos honestos, trabalhadores, solidários, só pensamos no bem-estar da comunidade.
Mas, se todos nos achamos ótimos, por que temos esse péssimo julgamento dos brasileiros? Afinal, os brasileiros não somos nós?
O que acontece é que vivemos alienados de nós mesmos. Temos a realidade seqüestrada pela mídia, que nos impõe o consumo como redenção e calmante. Desde o consumo de novelas, mesas redondas de futebol, colunas de fofoca, até o consumo de tranqüilizantes e antidepressivos.
Não se tem o saudável hábito de pensar criticamente a sociedade, a mídia (que agora nos inunda com os gatunos de Santa Catarina) e nosso papel na esquizofrenia geral.
Mas, não quero estragar seu dia, logo hoje que entramos na semana (de compras) do Natal.
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