Este poema, do russo Victor Vladimirovitch Khliebnikov, transcriado por Haroldo de Campos, publico em homenagem a todos aqueles que riem não para expressar alegria ou felicidade, não para demonstrar paz de espírito ou tranquilidade, mas riem do humor chulé, preconceituoso, aqueles que riem dos que não sabem falar “corretamente” o português, os que riem dos bêbados, dos loucos, dos mendigos, e riem também dos que não seguram os talheres da forma tal, ou não usam a roupa que seria “correta”; aqueles que mentem, manipulam as notícias, reclamam do Bolsa Família e das cotas, enquanto sorridentes bebem vinhos de milhares de reais e comem trufas brancas; os que brindam aos trabalhadores escravos de suas fazendas e ao novo rolar de suas dívidas bilionárias; aqueles que acham que têm uma certa superioridade e por isso sorriem suas prosperidades, enquanto o mundo desaba a seus pés, vagarosamente. Sorriam, e leiam:
Encantação pelo riso
Ride, ridentes!
Derride, derridentes!
Risonhai aos risos, rimente risandai!
Derride sorrimente!
Risos sobrerrisos – risadas de sorrideiros risores!
Hílare esrir, risos de sobrerridores riseiros!
Sorrisonhos, risonhos,
Sorride, ridiculai, risando, risantes,
Hilariando, riando,
Ride, ridentes!
Derride, derridentes!
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