Junior do AfroReggae: 'Não aconteceu [ataque do tráfico nas eleições], porque nós mediamos para não acontecer no primeiro turno'
Numa entrevista ao jornal português Público, o coordenador do AfroReggae José Júnior disse que os ataques que apavoraram o Rio logo após as eleições não aconteceram antes porque foi feito um acordo com os traficantes.
Perguntas que não querem calar:
- Por que o AfroReggae fez um arrego com os traficantes para que não ocorressem ataques no primeiro turno das eleições?
- Que outros acordos são feitos e com que interesses?
- Qual o interesse do AfroReggae em proteger o governo do estado, cujo governador, candidato à reeleição, seria o principal atingido com a onda de ataques?
Vocês coloquem outras. Só sei que, a partir dessa entrevista, todas as opções ficam em aberto e já não se pode descartar a hipótese de que o mesmo José Júnior tenha subido ao Alemão, não para tentar uma rendição, conforme alegou, mas para avisar aos traficantes que eles teriam até o final do ultimato para caírem fora sem serem incomodados.
E porque não fizeram os ataques na campanha eleitoral? Não seria mais eficaz como protesto?
Rolaram algumas mediações para que isso não acontecesse.
Com o Governo?
Não. Mediações com pessoas para evitar os ataques. Por isso é que não aconteceu. [Pausa] Vou-te falar verdade: não aconteceu, porque nós mediámos para não acontecer no primeiro turno. Não foi a pedido do Governo, não. Fizemos isso porque quisemos. A gente sabia, e entrou no circuito para não acontecer.
Então você mediou...
Nós. Do AfroReggae. Não sou eu.
Ok, um grupo. Liderado por você, presumo?
Mas o Rogério [Menezes] participou também. Outras pessoas participaram. Inclusive a informação [de que poderia haver ataques em preparação] chegou para o Rogério e o Rogério falou para mim. Não estou falando isso porque sou generoso, mas porque é verdade.
A iniciativa partiu de quem?
De nós.
E foi feita com quem?
Ah, não vou-te falar.
Com o Complexo do Alemão, com a Penha?
Também não vou-te falar. Você tem suas fontes, eu tenho as minhas, se eu te revelar minhas fontes, elas podem morrer. E as fontes são desde traficantes a pessoas que não têm nada a ver com o crime e sabem o que está acontecendo. Fizemos essa mediação para que não acontecesse no primeiro turno. Tinha outro período em que eles queriam fazer também [ataques], no início do ano. Tinha várias situações.
Nós trabalhamos nos presídios [onde estão muitos traficantes, e de onde partem ordens de ataques]. O AfroReaggae tem 75 projectos. Trabalha em Bangu II, Bangu III, Bangu IV, Bangu VI, Talavera Bruce [nomes de cadeias]. Então, fazemos trabalho em diversos presídios, diversas favelas e diversas facções do narcotráfico. Temos um projecto que encaminha ex-presidiários e ex-traficantes para trabalhar em empresas privadas, inclusive tem uma pessoa que foi de cada facção trabalhando aqui, encaminhando. Tem ex-traficante do Terceiro Comando, do ADA [Amigos dos Amigos], do Comando Vermelho, e essa semana agora começa a trabalhar um cara que foi da milícia. Era PM [Polícia Militar], foi preso, voltou para a milícia e saiu da milícia. Começa essa semana a trabalhar.
Perguntas que não querem calar:
- Por que o AfroReggae fez um arrego com os traficantes para que não ocorressem ataques no primeiro turno das eleições?
- Que outros acordos são feitos e com que interesses?
- Qual o interesse do AfroReggae em proteger o governo do estado, cujo governador, candidato à reeleição, seria o principal atingido com a onda de ataques?
Vocês coloquem outras. Só sei que, a partir dessa entrevista, todas as opções ficam em aberto e já não se pode descartar a hipótese de que o mesmo José Júnior tenha subido ao Alemão, não para tentar uma rendição, conforme alegou, mas para avisar aos traficantes que eles teriam até o final do ultimato para caírem fora sem serem incomodados.
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