Cinco meses antes da morte de Tim Lopes, repórter da Globo denunciou ameaças na Folha. Diretor da Globo duvidou
Ontem, numa reportagem de Maria Luisa de Melo para o Jornal do Brasil, a repórter Cristina Guimarães afirmou, contundente: "Se dependesse da Globo, eu estaria morta". Como Tim Lopes - seu colega de reportagem e de Prêmio Esso.
E é a mais pura verdade. A Folha publicou uma reportagem de Carla Meneghini (aqui, para assinantes) com a jornalista em janeiro de 2002, em que ela afirmava que estava sofrendo ameaças de traficantes, desde a reportagem que fizera (com Tim Lopes):
Na mesma edição da Folha, a confirmação das palavras de Cristina Guimarães, quando a repórter ouviu o diretor da Central Globo de Comunicação, Luís Erlanger:
Cinco meses depois de Erlanger duvidar das ameaças a seus jornalistas, um deles, Tim Lopes (da equipe de Cristina Guimarães), foi barbaramente assassinado pelo bando de Elias Maluco, no complexo do Alemão. Quando fazia mais uma reportagem para a Rede Globo.
A jornalista afirmou ainda que, "sem dúvida nenhuma", a morte de Tim Lopes poderia ter sido evitada pela emissora. "Eu falei sobre os riscos que estávamos correndo sete meses antes de os traficantes do Alemão matarem o Tim Lopes. Eu implorei por atenção a estas ameaças e o que fez a TV Globo? Ignorou tudo."
E é a mais pura verdade. A Folha publicou uma reportagem de Carla Meneghini (aqui, para assinantes) com a jornalista em janeiro de 2002, em que ela afirmava que estava sofrendo ameaças de traficantes, desde a reportagem que fizera (com Tim Lopes):
Há cerca de dois meses a jornalista Cristina Guimarães, 38, vive escondida. Co-autora da reportagem "Feira de Drogas" -exibida no Jornal Nacional em agosto e uma das vencedoras do Prêmio Esso 2001-, ela diz ter sofrido várias ameaças de pessoas ligadas aos traficantes da favela da Rocinha (Zona Sul do Rio), cujos rostos foram mostrados na televisão.
Dizendo-se cansada de esperar pelo auxílio da Rede Globo, Cristina entrou com uma ação trabalhista contra a emissora e se afastou do trabalho e do Rio de Janeiro. Agora, pede ajuda à Anistia Internacional.
(...) Qual foi a atitude da Globo quando soube das ameaças?
Não é bem a TV Globo... A chefia do jornalismo da emissora falava que eu não devia esquentar a cabeça com aquilo, que não ia acontecer nada comigo. Afinal, eu já tinha feito outras reportagens desse tipo.
(...)A emissora não ofereceu nenhum tipo de auxílio?
Não. Minha família me tirou do Rio e contratou seguranças para me acompanharem.
Na mesma edição da Folha, a confirmação das palavras de Cristina Guimarães, quando a repórter ouviu o diretor da Central Globo de Comunicação, Luís Erlanger:
Segundo o diretor da Central Globo de Comunicação, Luís Erlanger, a emissora só tomou conhecimento das ameaças que Cristina Guimarães teria sofrido ao ser notificada pela Justiça. "O suposto problema não foi comunicado à TV Globo. Ninguém na redação estava sabendo de nada. Ela simplesmente não veio mais trabalhar e só entendemos o porquê quando recebemos a notificação judicial", disse Erlanger.
Segundo ele, a TV Globo "tem tradição em jornalismo investigativo" e dá proteção a seus jornalistas quando eles sofrem ameaças, concedendo férias ou enviando-os para trabalhos no exterior.
Erlanger disse duvidar das ameaças. "Dos quatro produtores que participaram da série de reportagens, ela não seria a única a ser perseguida; é muito estranho", afirmou.
Cinco meses depois de Erlanger duvidar das ameaças a seus jornalistas, um deles, Tim Lopes (da equipe de Cristina Guimarães), foi barbaramente assassinado pelo bando de Elias Maluco, no complexo do Alemão. Quando fazia mais uma reportagem para a Rede Globo.