Os segredos do tucanoduto. Civita acusa: 'Serra me usou como um boy de luxo. Mas agora vai todo mundo para o ralo'
Faltavam catorze minutos para as 2 da tarde da última sexta-feira
quando o empresário Roberto Civita, presidente da revista Veja e do Grupo Abril,
parou seu carro em frente a um bar, em São Paulo. Responsável pelas mais
infames acusações aos governos dos presidentes Lula e Dilma, ele tem cumprido
religiosamente a tarefa de ir até esse modesto bar numa região pobre da grande
São Paulo. Desce do carro, vai até o balcão e é servido com sua bebida
preferida, que sorve numa talagada. Chega
mais cedo para evitar ser visto pelos outros bebuns e vai embora depressa,
cabisbaixo. "O PSDB me transformou em bandido”, desabafa. Civita sabe que
essa rotina em breve será interrompida. Ele não tem um átimo de dúvida sobre
seu futuro.
Nessa mesma sexta, Civita havia organizado em mega-encontro,
com mais de mil empresários do Brasil e do exterior. Chamou o ilustre economista Paul Krugman e
também o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a presidente do Brasil, Dilma
Rousseff. Ambos confirmaram presença. Mas, em cima da hora, a presidente
arranjou uma desculpa para não comparecer e o ministro abandonou a mesa de
debates, sem dar satisfações. "Ali, foi selado meu destino" - acredita Civita.
Pessoas próximas ao empresário afirmam que Civita teria
responsabilizado o candidato tucano à prefeitura de São Paulo, José Serra, pelo
vexame que deu em público. Meneando a cabeça, ele saiu exclamando para quem
quisesse ouvir: “Eu avisei ao Serra que ia dar merda! Eu avisei!”.
Apontado como o responsável pela engenharia que possibilitou
ao PSDB e até recentemente ao DEM montar o maior esquema de espionagem,
baixaria e calúnia da história, Civita enfrenta um dilema. Nos últimos dias,
ele confidenciou a pessoas próximas detalhes do pacto que havia firmado com os
tucanos. Para proteger os figurões, conta que assumiu a responsabilidade de
cometer crimes que não praticou sozinho, mas com a ajuda de Carlinhos Cachoeira
e seu grupo de arapongas, que faziam as “reportagens investigativas” de Veja,
para defender interesses dos demo-tucanos. Civita manteve em segredo histórias
comprometedoras que testemunhou quando era o "predileto" do poder,
relacionadas à privataria e aos escândalos da área de saúde do governo FHC,
comandada por José Serra. Em troca do silêncio, recebeu garantias. Primeiro, de
impunidade. Depois, quando o esquema teve suas entranhas expostas pela Policia
Federal, de que nada aconteceria a ele nem a Demóstenes Torres. Com a queda de
Demóstenes, logo após a prisão de Cachoeira, além de ter a equipe da revista
desfalcada, Civita tentou um último subterfúgio para não naufragar: mandou
fazer uma capa de destaque com a presidente Dilma.
Serra ficou enfurecido e o ameaçou. "Ele disse que abriria o jogo e mostraria que por trás de Carlinhos Cachoeira estava Policarpo, e por trás de Policarpo, eu".
Civita guarda segredos tão estarrecedores sobre o tucanoduto
que não consegue mais reter só para si — mesmo que agora, desiludido com a
falsa promessa de ajuda dos poderosos que ele ajudou, tenha um crescente temor
de que eles possam se vingar dele de forma ainda mais cruel. Os segredos de Civita,
se revelados, põem o ex-presidente FHC e José Serra no epicentro do maior
escândalo de corrupção da história, a privataria tucana. Puxado o fio da meada,
vêm juntos o caso Banestado, o Proer, a venda da Vale, o Fonte Cindam, a lista
de Furnas. Sim, e, no comando das operações, Serra. Sim. Serra, que, fiel a seu
estilo, fez de tudo para não se contagiar com a podridão à sua volta, mesmo que
isso significasse a morte moral e política de companheiros diletos. Civita
teme, e fala a pessoas próximas, que se contar tudo o que sabe estará assinando
a pior de todas as sentenças — a de sua morte: "Vão me matar. Tenho de
agradecer por estar vivo até hoje". (continua amanhã)
(O Blog diz que as afirmações foram feitas a diversos interlocutores. Procurado por nossa equipe, que atravessou a Dutra numa Kombi comprada com o Bolsa-Twitter, Civita não foi encontrado, não quis dar entrevista, mas não desmentiu nada. A maior parte desta reportagem foi copiada da própria Veja, trocando apenas os nomes das pessoas para dar veracidade às informações)
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