Professora que faz parte da banca de correção das redações do ENEM escreve ao Blog indignada

Recebi em meu e-mail:

Faço parte da banca de correção das redações do ENEM já há algum tempo. Por motivo de segurança, é pedido que sejamos discretos e não saiamos gritando aos quatro ventos que fazemos parte da equipe de correção. Por isso, peço que você tente divulgar o processo pelo qual passamos, sem citar, infelizmente, o meu nome.

Foram 229 turmas de professores, cada uma com 30 corretores. Foram 6.870 professores corrigindo no Brasil inteiro!

Em primeiro lugar, são escolhidos os professores coordenadores dessas turmas. São professores da Universidades Federais de todo o país com vasta experiência em correção de concursos e vestibulares. Em seguida, cada um monta a sua equipe de trinta professores, que devem ter experiência comprovada de docência com alunos do Ensino Médio. 

Passamos, então, por um curso online, com duração de 1 mês, em que estudamos o manual de correção do ENEM, e detalhamos/treinamos exaustivamente cada competência linguística em redações do ano anterior. Realizamos 'n' atividades simuladas, com acompanhamento hiper atento da coordenação, que ia ajustando as nossas correções, comparando e tirando as dúvidas em tempo quase real. E ainda discutíamos as nossas opiniões com os colegas, no fórum próprio para isso.

Esse curso, inclusive, serviu para conhecer os professores que não estavam corrigindo dentro dos padrões estabelecidos, e os mesmos foram dispensados. 

Antes de iniciarmos a correção propriamente dita, ainda tivemos um dia inteiro de treinamento presencial, para treinarmos mais um bocado e afinar os critérios. 

Durante toda a correção - que é feita por dois corretores e, havendo diferença significativa entre as notas, entra um terceiro corretor - temos a supervisão direta da coordenação, para esclarecer qualquer dúvida e ajudar efetivamente.

Vão ocorrer falhas? Evidente que sim! Mas tenhamos bom senso e boa vontade para analisar a situação. O que anda aparecendo na mídia são exemplos de redações que deveriam ter sido penalizadas por perderem a coerência no desenvolvimento do texto - como o caso da receita do miojo, evidentemente -. Certo. Mas, agora, um dos candidatos diz que fez de propósito, apenas para ver se a correção era séria! Como assim? Por que alguém que não precisa fazer o concurso se submeteria ao mesmo "apenas para ver se a correção era bem feita'". Sinto muito, mas alguma coisa está fora da ordem. Qual a intenção de uma atitude dessa? E, cá pra nós, eu desconheço a letra do hino do Palmeiras. Se ela entrou e fez sentido no texto do candidato, é muito possível que 95% dos corretores (ou mais) tivessem aceitado a dita cuja.

Todos os cuidados possíveis e previsíveis foram tomados. As pessoas envolvidas são super responsáveis e sérias. 

Parece que há uma orquestração para desmerecer e desprestigiar a iniciativa governamental. Quem pode se beneficiar com isso? As pessoas que são contrárias a um ensino mais consequente e democrático, que são favoráveis aos cursinhos pré vestibulares e apostilas que já vêm com a resposta certa... será?

Enfim, tô sentindo muita falta de uma voz que discorde de toda a babaquice que vem sendo divulgada e tomada como verdade irrefutável. Nunca vi tanta gente indignada com a ortografia da Língua.

Pois é... Quais são os interesses? Na minha opinião, a professora acerta na mosca quando diz que são "As pessoas que são contrárias a um ensino mais consequente e democrático, que são favoráveis aos cursinhos pré vestibulares e apostilas que já vêm com a resposta certa".

No entanto, como bem demonstrou o impagável Cloaca News, em geral essas pessoas são a fonte do problema que apontam. Confiram estas amostras colhidas pelo Sr.Cloaca e vejam a coleção completa direto na fonte.












A Rosane aí de cima é colunista do Zero Hora, do RS. Curiosamente, ela também desceu o malho nos tais erros das redações...