Pelo título parece piada. Mas só se for dos Gentilis da vida, que não têm graça nenhuma para quem é o alvo.
Nos EUA, Albert Woodfox mofa numa solitária de três metros por dois há inacreditáveis 42 anos. Por um crime que ele nega ter cometido e pelo qual foi condenado à prisão perpétua por depoimentos de um cego e um esquizofrênico.
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Preso por roubo no fim da década de 1960, Woodfox fundou uma unidade do movimento Panteras Negras, grupo radical de defesa dos negros americanos, na prisão de Angola, na Louisiana. Ele pretendia lutar contra as violações dos direitos humanos que ocorriam na prisão.
Em abril de 1972, o guarda penitenciário Brent Miller, 23, foi morto a facadas enquanto fazia a ronda em um dos complexos de Angola. Woodfox e outro Pantera, Herman Wallace, foram acusados da morte e colocados na solitária no mesmo dia –condição em que Woodfox está até hoje, mesmo após transferido para outra prisão em 2010.
Em 1973, os dois foram condenados à prisão perpétua. Woodfox e Wallace nunca assumiram a autoria do crime e dizem ter sido perseguidos por causa da militância dentro da prisão.
A defesa afirma que a principal testemunha do caso, um homem condenado por estupro chamado Hezakiah Brown, foi subornado pela diretoria da prisão para prestar seu depoimento – ele foi perdoado e libertado mais tarde.
Entre os presos que testemunharam contra os Panteras também está um cego que disse em depoimento ter visto Woodfox saindo do local do crime e outro diagnosticado com esquizofrenia. [Fonte :Folha]
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Graças a essa "temporada" na cadeia, Woodfox sofre de hipertensão, insuficiência renal crônica, diabetes tipo 2 e insônia.
Em novembro passado, uma juíza mandou libertá-lo. No entanto, a procuradoria recorreu e ele continua preso.
Uma obstinação semelhante à de Mandela. E pelos mesmos motivos.
Mas nem assim ele se deixa vencer: "Se a causa é nobre o suficiente, você pode carregar o peso do mundo nas costas. E, então, eles nunca conseguirão me quebrar".