Prefeito do PT implanta Tarifa Zero em Maricá e diz que mobilização popular pode levar transporte público gratuito a todo o país



Enquanto em várias cidades do país as pessoas vão às ruas protestar contra o aumento das passagens de ônibus, uma cidade do Rio de Janeiro vira notícia no Brasil inteiro por oferecer, desde dezembro último, Tarifa Zero, ônibus de graça para a população. Essa cidade é Maricá.

O Blog do Mello procurou o prefeito de Maricá, Washington Quaquá, que também é presidente do PT no estado do Rio de Janeiro, para saber como funciona a Tarifa Zero na cidade e se essa gratuidade pode ser levada ao Brasil inteiro, especialmente a metrópoles como Rio e São Paulo.

MELLO – Prefeito, como Maricá conseguiu oferecer a seus moradores aquilo que os movimentos populares estão reivindicando nas ruas, transporte público gratuito?
QUAQUÁ -  É fácil! Basta querer enfrentar o poder político e econômico dos empresários de ônibus, que são uns dos maiores financiadores de campanhas hoje em todo o Brasil.

MELLO – Pois é, mas exatamente por isso fica difícil. Como enfrentar e fazer valer o direito do cidadão contra esses que o senhor mesmo definiu como alguns dos maiores financiadores de campanhas políticas?

QUAQUÁ - O direito de ir e vir é um preceito constitucional e o transporte uma obrigação do Estado, segundo a  Constituição. Só que no Brasil os interesses privados sequestraram esse direito da cidadania. Como a educação e a saúde, o transporte também deveria ser público e gratuito.

MELLO – E como isso foi posto na prática em Maricá?

QUAQUÁ - Para garantir esse direito, eu criei uma autarquia pública, fiz um investimento razoavelmente modesto para o beneficio gerado, com os recursos dos royalties do Petróleo.

MELLO – Que investimentos foram esses? 

QUAQUÁ – Compramos 13 ônibus. Isso não chegou a 7 milhões de reais. E não gastamos mais que 700 mil com o custeio mensal. Ainda pretendemos comprar mais 20 micro-ônibus elétricos, sem emissão de CO2, para completar a frota e trazer a população de diversos bairros para as nossas linhas circulares.

MELLO – Qual a porcentagem da população que já utiliza o transporte gratuito?

QUAQUÁ - Mais de 70%, de um extremo a outro do município. São mais de 200 mil passageiros transportados em menos de 30 dias! Em 2016 queremos que todo o sistema seja público e gratuito. Além de tudo de excelente qualidade, com motoristas treinados para o atendimento humanizado, ar condicionado, wi-fi e elevador para cadeirantes em toda a frota.

MELLO – Mas, prefeito, isso tudo parece um sonho de todo cidadão. Maricá é o município brasileiro com o maior número de habitantes a adotar a tarifa zero. Mesmo assim tem pouco mais de 140 mil habitantes. A cidade recebe royalties do petróleo. Essa gratuidade pode ser levada a todo o Brasil, mesmo a metrópoles como Rio e São Paulo?

QUAQUÁ - Direitos de cidadania só são conquistados através de mobilização popular e luta de massas. Em geral, os políticos não se movimentam para garantir direitos por conta própria. Só a pressão popular faz avançar os direitos do povo. O movimento pelo passe livre está criando as condições políticas e a consciência social de que é um direito o transporte público e gratuito. Espero que nosso exemplo em Maricá contribua para essa luta nacional.

MELLO – Mas, trazendo para a realidade. Como isso se daria em uma cidade sem os royalties do petróleo e com população bem maior que Maricá?

QUAQUÁ - Claro que as metrópoles também podem ter transporte gratuito. Acredito que essa agenda deveria ser assumida também pela presidenta Dilma. Não se gastaria muito se Governo Federal, Estados e municípios cofinanciassem um sistema público e gratuito nas cidades acima de 100 mil habitantes, por exemplo.



Madame Flaubert, de Antonio Mello