O ministro ativista tucano do STF Gilmar Mendes deu uma palestra na Procuradoria Geral do Rio de Janeiro na sexta-feira. Durante a palestra, o ministro se dedicou a seu esporte predileto, desancar o PT, seu governo e governantes, como se fosse não um juiz do Supremo mas um comentarista político qualquer.
O fato torna-se ainda mais grave porque Gilmar Mendes acumula também a presidência do TSE, que vai julgar as contas da chapa Dilma-Temer de 2014.
Para Gilmar, o impeachment de Dilma já são favas contadas. Está "a caminho de se concretizar".
Ele tem uma explicação singela para o que está acontecendo. Nada a ver com injunções do corrupto e réu por corrupção Eduardo Cunha, nem com o comportamento vergonhoso do Congresso e do golpista e usurpador vice-presidente da República, agora interinamente no exercício da presidência, Michel Temer:
"A realidade fiscal não aceita desaforos, brincadeiras com essas questões resultam no estado que hoje nos encontramos. Se formos adotar uma ideologia, que seja a da estabilidade financeira."
Ele já tem, como se vê, até soluções para o país, a ideologia da estabilidade financeira.
Gilmar Mendes vai adiante e acusa o governo da presidenta Dilma de cometer fraudes:
"No ano de 2014, verdadeiras fraudes contábeis foram praticadas para anestesiar a população em ano eleitoral.""É inegável que o Brasil se tornou uma república egoísta, corporativista. Temos socialistas de botequim, ganham altos salários, cuidam dos seus interesses corporativos e entre um champanhe e outro fazem discursos pelos pobres."
Sobre a pressão desenfreada que os juízes supremos fizeram sobre o governo e os parlamentares, encontrando-se e fazendo sabe-se lá que acordos até com Eduardo Cunha para conseguirem aumentos salariais e de benefícios para o Judiciário, ele nada disse.
Somente para o Judiciário são 7 bilhões (pelo visto, quando ele defende estabilidade financeira está se referindo à dele e de seus colegas). Cada ministro supremo passa a ganhar de salário R$ 39.293, fora as mordomias do cargo, como já publiquei aqui.
Também nada comentou sobre a denúncia, feita pelo jurista Dalmo Dallari e lida pelo ex-senador Eduardo Suplicy no Plenário, de que a família do ministro Gilmar Mendes ocupa ilegalmente terras indígenas no Mato Grosso [assista o vídeo].
A verdade é que impeachment de Gilmar Mendes já passou da hora.
As informações sobre a palestra de Gilmar Mendes estão no Valor.