De capitão do Exército a banqueiro do bicho, história do capitão Guimarães mostra corrupção em plena ditadura militar


O capitão Aílton Guimarães, como é conhecido até hoje, tem uma vida pra lá de atribulada. No Exército, participou com orgulho de operações "contra o terrorismo" e é um dos denunciados pela Comissão de Justiça e Paz de ter participado ativamente de torturas a prisioneiros.

Começou uma carreira de crimes ainda no Exército e, mais adiante, já fora da Força, usou de seus conhecimentos no meio militar para se tornar um dos maiores banqueiros do jogo de bicho no Rio de Janeiro.

A seguir, trecho que narra parte da vida do capitão no Exército e que mostra que na ditadura militar a corrupção também corria solta. Ainda mais porque era acobertada pela censura à imprensa.

Bom de bola, sambista, frequentador do Cordão da Bola Preta, [o capitão Aílton Guimarães] entrou por vontade própria nas operações políticas da Polícia do Exército - RJ.
Segundo seus superiores era "inteiramente imbuído dos objetivos revolucionários, por um Brasil melhor, livre da corrupção e da subversão".
Em 1968 foi carcereiro de Vladimir Palmeira. Logo após a divulgação do Ato Institucional Número 5 prendeu Paulo Francis e Ferreira Gullar.
Em 1969, foi ferido na perna durante um tiroteio, o primeiro oficial ferido em combate à luta armada. Recebeu a Medalha do Pacificador [mesma Medalha mais tarde conferida ao juiz Sergio Moro] e foi elogiado por seu comandante. 
No DOI-CODI orgulhava-se de interrogar os prisioneiros sem máscara. 
Assaltos
Na madrugada de 14 de maio de 1971, já no posto de capitão, na companhia de dois outros capitães do exército, dois sargentos e dois cabos, assaltaram uma casa na estrada do Mendanha, no Rio, para roubar centenas de caixas de uísque, perfumes, milhares de calças e jaquetas de uma quadrilha de ex-oficiais da polícia militar. Em poucos dias os ex-oficiais da PM descobriram quem os tinha roubado e propuseram um acordo. No final da negociação ficou acordado que o capitão Guimarães passaria a fazer serviço de escolta [dos bandidos]. 
Um ano se passou, sem que fosse dado nenhum serviço aos militares da Policia do Exército - RJ, que então roubaram um caminhão carregado de roupas e venderam por pouco mais de 30 mil dólares. Os contrabandistas reagiram e eles foram denunciados ao comando do I Exército. 
O caso foi inicialmente investigado pelo tenente-coronel José Amaral Caldeira que investigou pessoalmente e inocentou todos os envolvidos.
Os contrabandistas finalmente passaram a contratar o grupo do capitão Guimarães. No final de 1972 foi chamado junto com um sargento para guardar a chegada de 3 caminhões com roupas e cosméticos na praia do Caju. Logo depois, em Sepetiba, um jipe do exército escoltou um comboio com mais de 18 mil calças Lee até o centro da cidade. Nestas duas operações trabalharam junto com o comissário Euclides Nascimento, da Scuderie Detetive Le Cocq. 
Na madrugada de 22 de novembro de 1973, o capitão e o comissário escoltavam dois caminhões de uísque e cigarros. Ao passar por São Cristóvão foram parados por dois policiais militares armados, que confiscaram a carga, tentaram um acordo, infrutífero. O capitão Guimarães mandou chamar reforço no quartel e um camburão da Polícia do Exército - RJ, sob o comando de Paulo Roberto Andrade, chegou para desarmar os policiais e dar seguimento na carga. 
O caso não deixou nenhum registro na Polícia do Exército - RJ, nem na seção de informações, como era usual na época. 
 Em 20 de fevereiro de 1974 o governo se movimentou, a Polícia Federal e o Serviço Nacional de Informações reuniram provas e remeteram ao general Sílvio Frota, que abriu um IPM para investigar a denúncia, sob o comando do coronel Aloísio Alves Borges. No dia seguinte boa parte da quadrilha estava presa, incluindo o capitão Guimarães. No fim do mês eram trinta presos. Para colher os depoimentos foram submetidos a torturas.
Na primeira instância, 24 presos foram libertados em dois meses. No final, o Superior Tribunal Militar (STM) absolveu todos.[Fonte: Wikipedia]


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