Logo após mais uma derrota no primeiro turno, Ciro Gomes partiu para Paris, a fim de esvaziar a cabeça e repensar seu destino. Afinal, mais uma vez estaria de fora da final numa disputa por um cargo executivo, que não tem como chefe há 24 anos, quando terminou seu mandato de governador do Ceará.
Depois disso, Ciro esteve no executivo por duas vezes: foi ministro da Fazenda, como gosta de sublinhar, sem declarar que o foi por apenas quatro meses, no governo Itamar, num mandato tampão, substituindo Ricupero (flagrado no famoso "o que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde") de setembro a dezembro de 1994, antes de FHC assumir a presidência.
Ciro foi também ministro da Integração Nacional do primeiro governo Lula, de 2003 a março de 2016, quando saiu para disputar e se eleger deputado federal pelo Ceará. Portanto, são mais 12 anos sem um cargo executivo como ministro.
A derrota em uma disputa em que ele via a vitória como certa, graças à exclusão de Lula por força do golpe, deve ter doído muito.
Em Paris, ele tinha à sua frente dois cenários: uma vitória de Haddad praticamente poria um fim em suas pretensões presidenciais. Haddad é novo e poderia se reeleger. O que colocaria mais oito anos entre Ciro e seu sonho.
Só a vitória de Bolsonaro poderia lhe trazer alguma vantagem.
Ficou, então, quieto, por estratégia, enquanto curtia os acenos iniciais, que com o passar do tempo se transformaram em apelos, para que se pronunciasse em favor de Haddad.
Mas, por que ele faria isso? Se julga, e está certo nisso, com tanto direito quanto qualquer outro brasileiro de sonhar com a cadeira presidencial.
Enquanto não dizia nem que sim nem que não, Ciro acompanhava o desenrolar da campanha e principalmente das pesquisas. Se Haddad estivesse a ponto de virar o jogo, ele, em cima hora, declararia seu voto nele e seria apontado como o homem responsável pela eleição de Haddad.
Caso as pesquisas ainda apontassem uma provável vitória de Bolsonaro, ele daria um voto em favor da democracia, contra a intolerância, mas não diria que só Haddad é que representa esse voto.
Com isso, Ciro não se inclui do lado dos possíveis derrotados e se lança, desde já, como a "opção democrática e tolerante" a Bolsonaro. De olho em 2022. Com o Brasil que chegar até lá.
A História o julgará.
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