Woody Allen: 'Me interessam as pessoas com problemas. Sobretudo emocionais'

Woody Allen

Cineasta fala de seu último filme e de seu trabalho, em entrevista ao El País


Numa entrevista ao El País, Woody Allen fala de seus filmes, do que o motiva a escrever, o que gosta nos filmes e o que não gosta dos Estados Unidos.

Leia trechos a seguir e a entrevista completa a Borja Hermoso no site do El País.

Seu novo filme, a comédia romântica Um Dia de Chuva em Nova York, chegará em 11 de outubro à Espanha e a outros países (no Brasil, estreia em janeiro de 2020), mas não aos Estados Unidos: Woody Allen e a produtora Amazon estão em guerra, com as acusações de abusos sexuais e o movimento #MeToo como pano de fundo.

Por que adora os dias de chuva? Por que é melhor o céu carregado que o Sol? 
Porque a luz é mais bonita. E porque acredito que nesses dias as pessoas pensam mais a partir do seu interior, da sua alma. A minha é um pouco triste... e se abro a janela pela manhã e está ensolarado, acho desagradável. Por outro lado, vejo que as cidades são lindas sob a chuva. Paris, Londres, Nova York, San Sebastián são muito bonitas, mas se chove ficam mágicas. Em San Sebastián, por exemplo, o clima é uma bênção, o verão parece primavera. E chove. Mas os que investem nelas se queixam de que é caro rodar com chuva. Sobretudo porque, quando quero rodar com chuva, quase nunca chove e temos que fabricá-la e usar tanques de água. Às vezes peço a Deus que faça algo, mas nada, nem uma nuvem.

Neste filme temos um diretor que não quer acabar seu filme, um estudante que não quer continuar na universidade e um jovem que não quer se casar... Parece um filme habitado por Bartleby, o escrivão do conto de Melville: “Preferiria não fazer isso.” 
É verdade, é assim, que curioso, não tinha pensado nisso. O protagonista, Gatsby, quer fazer o que ele quer fazer, não o que seus pais pedem que faça: estudar, ser elegante, essas coisas. Ou seja, de fato ele “prefere não fazer isso”. Prefere ser um jogador ou tocar piano de noite em bares esfumaçados. 

Diria que observar ou dissecar —talvez tratar— personagens em crise como esse é uma das especialidades da casa Allen? 
Sim. Você precisa desses elementos para um drama. Personagens em situações críticas. Do contrário... Quando vemos um western, ou um filme de gângsteres ou qualquer tipo de filme emocionante, há pessoas em crise, que sacam pistolas, fogem dos soldados, sofrem... E meus personagens também. Sempre têm uma crise emocional. Para mim, os personagens que não a têm não são interessantes nem divertidos. Não me interessam as pessoas comuns. Me interessam as pessoas com problemas. Sobretudo emocionais.

Por que acredita que a dúvida —ou, digamos, o erro— carece de todo prestígio? Não acha que isso tem um impacto negativo na educação de nossos filhos? 
Com certeza, e conheço bem isso. Hoje inclusive estamos assistindo à morte do artista. É triste. O artista hoje tem medo de se arriscar no que faz e no que diz porque teme as consequências. Infelizmente, em meu país, se você fracassa não há muita margem. Nos EUA não existe tolerância ao fracasso. E é terrível ensinar isso às crianças. Devemos estar dispostos a fracassar, sobretudo na minha profissão. Você vai secar como ser humano se viver toda a sua vida com medo de fracassar. Essa é uma maneira terrível de viver. 

Ajude o Mello a tocar o blog. Faça uma assinatura. É seguro, rápido e fácil
Sua assinatura faz a diferença e ajuda a manter o blog
Apenas R$ 10. Todos os cartões são aceitos. Você pode cancelar a assinatura a qualquer momento




Recentes:

Para receber notificações do Blog do Mello no seu WhatsApp clique aqui
(Apenas Assinantes)

Você vai ser direcionado ao seu aplicativo e aí é só enviar e adicionar o número a seus contatos


Assine a newsletter do Blog do Mello.
É grátis.