'A regra Bolsonarista de autoria é: tudo que é ruim não é culpa minha, o que é bom é mérito meu' - Gabriela Priori
A professora e mestre em direito penal pela USP Gabriela Prioli escreveu em sua coluna de hoje na Folha:
O placebo eleitoral
A ciência, como todos vocês sabem, é comunista. Infectado, Bolsonaro se tornou a “prova” de que a cloroquina dá certo. O raciocínio é simples: ele pegou coronavírus, tomou o remédio e melhorou. Logo, a cloroquina funciona. Por essa construção, a solução poderia ser a bicada da ema...
O ponto é que, como estratégia de campanha, a defesa da cloroquina parece ser uma boa ideia. O presidente sem projeto e do “a culpa não é minha” não precisa que a cloroquina funcione, precisa só que as pessoas acreditem que funciona para que ele possa repetir o “mimimi” que engaja, vejam só a ironia, quem reclama que tudo é “mimimi”.
A estratégia para 2022 é dizer que, por culpa dos seus adversários, as pessoas foram impedidas de se salvar. É uma complementação da já manjada, e equivocada, desculpa de que o STF decidiu que o governo federal não podia criar um plano de enfrentamento à Covid-19. Assim, a cura do coronavírus foi inviabilizada pela oposição, e a crise econômica é culpa da oposição.
A regra Bolsonarista de autoria é: tudo que é ruim não é culpa minha, o que é bom é mérito meu. Tipo interessante —e comum— de meritocracia. Muitos se convencem, talvez deliberadamente. A meritocracia oportunista ajuda os pouco talentosos e irresponsáveis.
Embora eleito, Bolsonaro não governa, segue em campanha. No meio do caminho, entretanto, tinha um tribunal de contas, que apura, no processo 022.765/2020-4, a ocorrência de possível superfaturamento na compra, pelo Comando do Exército, de insumo para a fabricação do medicamento e avalia a decisão de aumentar a produção em 84 vezes nos últimos meses. E isso tudo sem prova científica de que o remédio funciona.
Quando administra o orçamento público, o presidente deve prestar contas. Não pode fazer campanha com o dinheiro dos outros.
Dizem que Bolsonaro está buscando adeptos. Precisa de “cloroquiners”, especialmente entre profissionais da saúde, para escapar do dolo ou da culpa. Vejamos.
Todo mundo sabe que Bolsonaro foi contra o auxílio emergencial de R$ 600. Mas fatura em cima como se fosse ideia dele. O mesmo com o Fundeb, que foi contra e determinou votação contrária, e agora diz que é mérito seu.
Gabriel Prioli vai no ponto, quando diz que Bolsonaro "não precisa que a cloroquina funcione, precisa só que as pessoas acreditem que funciona".
Bolsonaro é uma fake news presidente.
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