Em 2011, foi exibido na TV Brasil o documentário "O Dia que durou 21 anos", em forma de série (depois virou um longa) de três episódios.
O saudei aqui como um dos mais importantes momentos da TV brasileira.
Ontem a TV Brasil exibiu a primeiro episódio do documentário "O Dia que Durou 21 anos", uma coprodução da TV Brasil com a Pequi Filmes, com direção de Camilo Tavares.
O mais interessante no episódio de ontem foi a confirmação, através de diálogos do presidente Kennedy com seu embaixador no Brasil Lincoln Gordon, que todo o discurso de nossos golpistas, civis e militares, em favor do "nacionalismo" e para "expurgar o perigo comunista" era "made in USA".
Com a exibição de material inédito, "documentos do arquivo norte-americano, classificados durante 46 anos como Top Secret", ficamos sabendo como nosso destino foi traçado no exterior e desenvolvido aqui, com agentes da CIA infiltrados e milhões de dólares distribuídos entre deputados, jornalistas e meios de comunicação. O próprio presidente Kennedy chega a reclamar com o embaixador que a verba era muito grande, mas Gordon o alerta que maior seria o prejuízo se o Brasil virasse uma nova Cuba.
Se ainda não o fez, não deixe de assisti-lo, porque mostra que o dedo dos EUA no golpe foi tão forte que até o primeiro presidente, Castelo Branco, foi escolhido por eles, como escrevi na ocasião.
No documentário, temos uma declaração do presidente Lyndon Johnson, que havia sucedido o presidente Kennedy, assassinado em Dallas, em 1963. Johnson afirma que os Estados Unidos não iriam permitir novo governo com tendências esquerdistas no hemisfério ocidental.
Para isso, o embaixador no Brasil, Lincoln Gordon, já vinha trabalhando há tempos. A decisão era que fossem usados todos os meios para criar um clima contrário ao presidente Jango e favorável a um golpe militar pró Estados Unidos.
Através do Ibad foram realizadas ações, escritas colunas em jornais e revistas, produzidos filmes e comerciais para rádio, TV e salas de cinema, editoriais, tudo para atingir o objetivo dos EUA de confundir seus interesses com os nossos. Ao mesmo tempo, agentes da CIA atuavam na outra ponta, radicalizando movimentos sociais para que fugissem ao controle do governo.
Um depoimento de Laurita Mourão, filha do general Mourão, que deflagrou o golpe na noite de 31 de março de 1964, diz tudo em poucas palavras. Segundo ela, o pai, quando partiu de Juiz de Fora com suas tropas em direção ao Rio de Janeiro, esperava derramamento de sangue. No entanto, as tropas chegaram ao Rio sem qualquer resistência. Seu pai teria entregue o comando então ao general Costa e Silva, que, segundo Laurita, foi surpreendido dormindo e de cuecas, na madrugada do dia 1º de abril, o dia dos Tolos, segundo ela declara, irônica.
Mas não foi Costa e Silva quem se tornou presidente. Porque o escolhido pelos Estados Unidos eram outro, o chefe do Estado-Maior do Exército Castelo Branco. Documentos exibidos no documentário mostram que Castelo era o porta-voz preferido deles e teria solicitado o envio de frota dos EUA para apoiá-los no Brasil.
O coordenador do National Security Archives Peter Kornelur afirma que os Estados Unidos utilizaram contra o Brasil a mesma intimidação aplicada a pequenos países das Américas: a presença de sua frota.
Fico imaginando os militares que eram verdadeiramente idealistas e não apenas golpistas atuando em favor de empresários, multinacionais e do governo estadunidense. Ao verem os documentos e até onde estavam sendo manipulados pelo governo dos EUA, como se sentirão hoje?
Pelo que vemos hoje, no governo infame de Bolsonaro, não aprenderam nada e continuam, como o Jair, batendo continência para a bandeira dos EUA em detrimento da nossa, embora encham a boca para afirmarem o contrário.
A seguir, assistam ao documentário na íntegra.
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