Hoje, até o ministro Gilmar Mendes, parece ter se curvado ao novo acordo "com Supremo, com tudo", para manter a situação como está para ver como é que fica.
Após a Carta à Nação de Bolsonaro, escarradamente ditada por Temer (como o próprio golpista vaidoso confirmou), o Brasil deve fazer a egípcia e acreditar no Bolsonaro redimido, o novo homem que teria se rendido ao jogo democrático e abandonado a carreira de golpista, de defensor da ditadura, da tortura e do assassinato de adversários.
A jornalista Cristina Serra escreve sobre esse acordo na Folha:
Temer e a proteção a BolsonaroO país parou com medo de um golpe no 7 de Setembro. Sob o comando do líder ensandecido da seita e com patrocínio do agronegócio, caminhões e tratores reluzentes substituiriam tanques. Caminhoneiros estariam no lugar de "um soldado e um cabo". Eis que no fim do feriado um cheiro de impeachment exalou de redutos até então considerados seguros e o alarme tocou.
Foi a deixa para Michel Temer voltar aos holofotes com seus trejeitos de ilusionista e artifícios de golpista. Como já escrevi aqui, o golpe foi em 2016, contra Dilma Rousseff. Desdobrou-se em 2018 e agora assistimos a uma nova reacomodação de tensões entre as mesmas forças que disputam o butim desde a ruptura travestida de legalidade cinco anos atrás.
Não é a primeira vez que Temer vem em socorro de Bolsonaro. O jornalista Octávio Guedes, do G1, bem lembrou episódio que desonra a Câmara dos Deputados. Em 1999, Bolsonaro pregou o fechamento do Congresso e o fuzilamento do então presidente, Fernando Henrique Cardoso. Deveria ter tido o mandato cassado. Mas pediu desculpas pelos "excessos" e ficou por isso mesmo. Quem era o presidente da Câmara na ocasião? Ele mesmo, o missivista das mesóclises.
A carta de agora garante proteção a Bolsonaro, que vai continuar latindo aqui e ali porque é o que sabe fazer. O importante a registrar de toda a confusão dos últimos dias é que a fervura baixou e as pequenas frestas abertas, para o que já era uma remota possibilidade de impeachment, foram vedadas. Os articuladores do golpe de 2016 mostram que ainda têm as rédeas do processo.
A Faria Lima respira aliviada. Lira e Pacheco tocam o jogo, em cumplicidade que aprofunda o abismo. O comando do Congresso tornou-se parte do problema, tanto quanto o chefe do Executivo. Essa gente deve estar achando que 600 mil brasileiros nos cemitérios são um preço pequeno demais. O custo que Bolsonaro impõe ao país é desmesurado, e teremos que lidar com ele por muitas gerações.
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