O carnaval do Juvenal

Tem gente que gosta de Carnaval. Tem gente que adora Carnaval. Tem gente que já gostou de Carnaval mas não gosta mais. Há os saudosistas, ah, como eram bons os antigos Carnavais!

Mas há outros, os que se transformam literalmente durante o Carnaval. E não estou falando de machões que se vestem de mulher. Esses são vários e por motivos também vários.

Falo daquele tipo de cidadão que faz e é seu próprio Carnaval, como o antigo folião da foto, o repórter Julio Silva, que todo ano saía pelas ruas do Centro da Cidade do Rio com um cartaz onde se lia "Bloco do Eu Sozinho". Durante 59 anos. Mas esses grandes foliões estão apenas fantasiados, não transformados. Não deixam de ser o que são; apenas se fantasiam.

Os que verdadeiramente se transformam viram uma outra pessoa (e não apenas a fantasia de uma outra) durante o Carnaval. Eles são raros. O Juvenal (não é esse o nome dele, mas quase) é um deles.

Sóbrio durante o ano todo, sem botar uma única gota de álcool na boca, no Carnaval Juvenal começa a beber na sexta-feira e só para na quarta, quando cai apagado em casa. E volta à sobriedade (em sentido amplo), até o próximo Carnaval.

É uma transformação radical. Não é só do abstêmio em bebum. Ele, que também é super discreto, fala baixo, poucos gestos, no Carnaval, doidão, não apenas fala alto e gesticula muito. Ele canta, dança, se fantasia de mulher, do que for, e sai em todos os blocos e pula em todos os bailes que encontrar pela frente.

De estatura baixa, Juvenal se agiganta no Carnaval, e é comum vê-lo atracado com mulheres muito maiores que ele, aos beijos num capô de carro.

Talvez você conheça algum Juvenal. Talvez você até conheça o Juvenal (já disse que o nome dele é quase esse), mais um dos tipos inesquecíveis do Carnaval.

Mas, nesse Carnaval atípico do Rio de Janeiro, que oficialmente foi adiado para abril, embora esteja correndo enlouquecido nas ruas e praias e festas privês caríssimas (leram o Marechal na Folha?), fico pensando no Juvenal. E uma dúvida me vem à cabeça.

Em qual dos dois Carnavais Juvenal vai cair na folia e de boca na bebida? Ou será que vai dobrar?

Se ele me responder, falo com vocês.

Viva o Carnaval, uma injeção de alegria em meio à pandemia e à guerra, e as tragédias da Bahia e de Petrópolis. E da tragédia maior: o governo Bolsonaro.

Viva o Carnaval do Juvenal!


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