Assim começa a coluna de hoje do jornalista Janio de Freitas, na Folha, de que reproduzo trecho a seguir. Mas, antes, minha perplexidade: como é possível um governo de fome, destruição, um presidente psicopata, cruel, misógino, e o povo como que anestesiado, dormindo esperando o pesadelo passar, enquanto o Congresso enche os bolsos com bilhões desviados, que deveriam ir para a saúde, a educação, a cultura, o saneamento, a geração de empregos?
Pior, ainda temos em torno de 1/4 de brasileiros dispostos a manter esse estado de coisas. Como chegamos até aqui? Como vamos olhar o futuro sem nos envergonharmos de termos, de um modo ou de outro —mesmo na oposição— permitido? Vamos fazer como os alemães, que ao fim da guerra alegaram não saber dos campos de concentração e de extermínio, embora seis milhões de pessoas tenham sido executadas e o fedor da morte dos campos se espalhasse pelo país?
Vemos nas ruas os flagelados implorando por qualquer ajuda, enquanto o presidente zomba e passeia de lancha, de moto, de jet ski, e boa parte dos congressistas enche os bolsos de dinheiro, junto com milhares de militares que se aboletaram no governo, e pastores vendilhões do templo, que cobram até em barras de ouro.
Como permitimos e estamos permitindo, ou, como diz Bolsonaro, a culpa é sempre dos outros?
Quantos de nós ainda morreremos até que esse canalha e sua turma de militares, pastores, congressistas,juízes, procuradores sejam enfiados na Papuda para sempre?
O Janio:
Quando não é milícia, é máfia. Assim se configura o que é tido como governo Bolsonaro. Assim são as forças operativas e extrativas instaladas no poder por efeito de deturpação eleitoral, com fraudulências judiciais, e de ingerência do comando do Exército no processo eletivo.
Se as motivações para a eleição deturpada eram diferentes, seus objetivos foram antidemocraticamente os mesmos.
A ideia de que esse governo despreza o caráter laico do Estado, associando-o outra vez à religião, não é errada, mas é imprecisa. Bolsonaro abriu o poder e os cofres públicos a uma corrente de pastores evangélicos que não é mais nem menos do que máfia de falsos pastores infiltrada no evangelismo.
É a bandidagem que multiplica alegadas igrejas para enriquecer, pela exploração criminosa da ingenuidade e do desamparo –e, esta a inovação de Bolsonaro, pela exploração das instituições oficiais e dos vários meios e cofres do governo.
Já na corrupção comprovada pela CPI da Covid, esse ramal dos falsos pastores evangélicos apareceu nas negociatas que Augusto Aras, o nominal procurador-geral da República, não quer sob inquérito.
O braço da máfia agora flagrado no assalto ao cofre da Educação, aberto "a pedido especial" de Bolsonaro como dito pelo próprio ministro Milton Ribeiro, está presente no Planalto e no Alvorada.
Se o ar cândido de Michelle Bolsonaro é autêntico ou enganoso, ainda não está claro, o que invalida as acusações e as defesas que suscita. Mas aí está, sobrepondo-se às inexplicadas somas recebidas do miliciano Fabrício Queiroz, o seu comprometimento como protetora do ministro e dos pastores mafiosos que têm manejado, em proveito próprio, altas verbas da Educação.
Não só Milton Ribeiro se tornou ministro por intermédio de Michelle. Bolsonaro não nomeou novos ministros do Supremo, apenas plantou lá dois guarda-costas. Ao menos um deles, por insistência de Michelle: o pastor André Mendonça, que já exibe o seu propósito lá. O outro atendeu a vários interesses, entre os quais consta a bênção de Michelle em troca do compromisso pró-André.
O agradecimento público deste segundo e sua exuberante comemoração com Michelle selaram, para todos os fins, a busca de anexação até da mais alta instituição de justiça pelo evangelismo de bandidagem.
Não foi só a Saúde nem é só a Educação. É o governo todo.
Quem o diz é o próprio Bolsonaro, por exemplo, em recente reunião com as cúpulas evangélicas no Alvorada: "Eu dirijo a nação para o lado que os senhores assim desejarem". Ressalve-se que era meia verdade: ele dirige a nação para o lado desejado pela corrente mafiosa entre os evangélicos, entre os empresários, entre os políticos e entre os militares.
O pedido de inquérito feito por Augusto Aras e a anunciada investigação da Polícia Federal sobre os pastores de verbas tanto podem ser úteis como servirem para evitar investigações de fato e CPI. Por ora, e considerados os proponentes, estão longe de confiáveis.
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