Como prometi ontem na postagem Gravações inéditas de Janis Joplin e Jorma Kaukonen em The Legendary Typewriter Tape, de 1964, hoje é dia de Victor Biglione e Cássia Eller, um lançamento com muitas semelhanças: cantoras em início de carreira, acompanhadas por guitarristas poderosos, gravados há muitos anos (o de Janis há quase 60 anos; o de Cássia, a metade), que vêm a público quase que ao mesmo tempo.
Ouça uma das faixas, When Sunny Gets Blue, e procure pelas demais nos canais de streaming, porque vinil, CD etc estão programados apenas para o meio do ano que vem.O projeto, lembra Biglione, nasceu após uma viagem do músico aos Estados Unidos no início de 1991. “Eu me ressentia que não tínhamos no Brasil um trabalho de releituras que expressasse a riqueza que a linguagem blues traz consigo”, conta o instrumentista e arranjador, que selecionou o repertório e buscava uma voz feminina que encarnasse o projeto. “Uma produtora amiga, Lígia Alcantarino, me indicou uma cantora iniciante chamada Cássia Eller. Ouvi Cássia cantando a faixa ‘Por Enquanto’, de Renato Russo, em que citava na introdução ‘I’ve Got a Feeling’, de Lennon e McCartney. Logo vi que ela tinha essa pegada”, rebobina o guitarrista consagrado nacional e internacionalmente e que a essa altura já tinha três álbuns solo, um Grammy Internacional com o grupo Manhattan Transfer, em 1988, e já era um dos mais requisitados músicos de estúdio, o que o levou mais tarde a ser guitarrista com o maior número de gravações e shows na história da MPB.
Cássia, por sua vez, havia lançado seu primeiro álbum, “Cássia Eller” (Polygram, 1990), com um repertório dominado pelo rock’n’roll, e vinha arrancando elogios da crítica, pavimentando os primeiros passos de uma carreira apoteótica que lhe renderia inúmeras premiações como o Grammy Latino, em 2002, os prêmios Sharp (1991, 1993, 1995, 1997, 1998 e 2002) e Multishow (2002), entre outros.
“Lembro que a Cássia foi à minha casa bem tímida. Passei a ela o repertório e, três dias depois, no primeiro ensaio com a banda, ela já havia dominado todas as canções com interpretações estonteantes e cheias de personalidade. Todos ficaram de queixo caído, pois ela não conhecia aquelas obras até então”, revela Biglione.
Composto por 10 faixas, sendo duas instrumentais, “Cássia Eller & Victor Biglione in Blues” reuniu no estúdio músicos de alta qualidade, recrutados por Biglione, que assinou os notáveis arranjos e dividiu a produção musical com o saxofonista Zé Nogueira. Participam da banda-base André Gomes (baixo elétrico), André Tandeta (bateria), Marcos Nimrichter (órgão), Ricardo Leão (teclados) e Nico Assumpção (baixo acústico), falecido precocemente em 2001, que toca em duas faixas. Guitarrista de excelência, Biglione esbanja sua técnica por todo o trabalho travando diálogos inventivos com Cássia Eller. Há que se registrar ainda o arrepiante naipe de metais que reunia Zé Nogueira (sax alto e soprano), Zé Carlos Ramos, o Bigorna (sax alto), Chico Sá (sax tenor), Bidinho (trompete) e Serginho Trombone (trombone), morto em 2020. A captação, mixagem e masterização foram feitas por Sérgio Murilo. [leia mais aqui, onde há até uma apresentação feita por Victor Biglione faixa por faixa. Vale a pena].
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