Não, o prefeito de Porto Alegre Sebastião Melo não botou a culpa das enchentes somente na chuva. Nem no fato de não ter investido um tostão sequer em prevenção contra enchentes. Isso mesmo: zero.
O culpado é o de sempre: o povo, que em vez de ir morar uma região rica, com saneamento básico 100% e todo o conforto que o dinheiro pode comprar, "decide" morar em áreas sujeitas a alagamento. Mesmo levando em conta que as cheias inundaram áreas nobres da cidade.
O culpado é o de sempre, aquele que atrapalha todos os "excelentes investimentos" e as "melhores e mais modernas práticas de gestão": o Povo. Se não fosse o povo todos eles seriam administradores maravilhosos e Sebastião Melo não estaria sendo cobrado por sua incompetência e por ter não apenas zerado o investimento mas também esvaziado o quadro de funcionários do Departamento Municipal de Águas e Esgotos (DMAE).
Administração Sebastião Melo
Gastos por ano na prevenção das enchentes
- 2021 - R$ 1.788.882,48 (R$ 1,7 milhão)
- 2022 - R$ 141.921,72 (R$ 141 mil)
- 2023 - R$ 0
O quadro de servidores do DMAE foi reduzido quase pela metade desde 2013.
- 2.049 servidores em 2013;
- 1.072 servidores hoje;
- 47,6% de redução;
O prefeito foi alertado sobre a necessidade de contratar gente para o DMAE, mas se recusou:
Apesar da redução dramática de pessoal, o prefeito Sebastião Melo recusou a contratação de 443 funcionários. A Secretaria Municipal da Fazenda havia autorizado abrir estas vagas em 2022, mas o procedimento foi interrompido ano passado por decisão do prefeito. [UOL]
Mas para Sebastião Melo nada disso foi relevante. Jamais ele admitiria que errou, que talvez devesse deixar de pensar na prefeitura como uma empresa que deve dar lucro, porque não é. O DMAE tem simplesmente R$ 428,9 milhões disponíveis para serem usados em prevenção, mas Melo preferiu secar as verbas até Zero, deixar o dinheiro em caixa e Porto Alegre naufragada.
Pesquisadores confirmam que a falta de manutenção colocou o sistema de prevenção em risco. Parafusos, borrachas e trilhos se deterioraram ao longo da estrutura de proteção.
"Não é uma crença, é uma constatação. Falta manutenção no sistema", diz Fernando Dornelles, professor e doutor em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental da UFRGS
Enquanto o gasto com proteção contra cheias foi zero, o resultado
patrimonial apresentou superávit de R$ 31.176.704,80 (R$ 31,1 milhões),
informa trecho do balanço do DMAE.
Ainda assim, numa entrevista ao Jornal Nacional, Melo mente ao dizer que falta dinheiro (como, se tiveram até "lucro"?!), quando não usou os R$ 428,9 milhões disponíveis no DMAE nem contratou funcionários.
"O que não falta ao Brasil são legislações. O que falta mesmo é dinheiro."
"Vamos começar pelos desabrigados. O crescimento de todas as cidades brasileiras é que leva a esse flagelamento. Essas pessoas que estão acolhidas e tantas outras que não estão nesses abrigos, que estão na casa dos amigos, nunca deveriam morar onde moram."
O povo. Ah, se não fosse o povo...
A prefeitura, o aeroporto, o Mercado Público e 84,5k edifícios residenciais inundados, com 395k pessoas desabrigadas (1/3 da população da cidade). Mas Sebastião Melo, prefeito de Porto Alegre, diz que culpadas são as pessoas que moram onde não deviam 😒 pic.twitter.com/I6UviBdYzS
— Jeff Nascimento (@jnascim) May 12, 2024