Americanas. Mídia tenta esconder trio de bilionários do rombo

Em 11 de janeiro de 2023, a nova diretoria das Americanas recém-empossada publicou comunicado em que dizia que foram identificadas “inconsistências em lançamentos contábeis” no balanço, em valor que chegava a R$ 20 bilhões. 

A notícia caiu como uma bomba e as ações da empresa despencaram 85% de uma hora pra outra.

Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, trio de bilionários que controlavam as Americanas havia 40 anos, foram procurados e disseram que não estavam no controle administrativo da empresa.

Histórico do rombo...

Num arquivo de posse da Polícia Federal chamado nelsorodrigueanamente "A vida como ela é" foram encontradas as seguintes informações:

Em um email de dezembro de 2020, o ex-executivo Timotheo Barros pede "os números reais" de novembro para que o balanço do ano fosse fechado a Flavia Carneiro —cuja delação premiada foi uma das que deram subsídios ao caso.

A diretoria tinha dois documentos comparando os resultados. O real, chamado "Visão Interna", e o fictício, denominado "Visão Conselho".

A "Visão Interna" de 2021 tem um resultado negativo de R$ 733 milhões, enquanto a "Visão Conselho" apresenta um resultado positivo de R$ 2,885 bilhões, que foi apresentado ao mercado. [Folha]

Quer dizer, já em 2021 se sabia que havia um grande rombo nas Americanas, que era igual à soma do rombo efetivo (R$ 733 milhões) com o valor divulgado ao mercado e que serviu de base para dividendos de ações (R$ 2,885 bilhões), que dava um total de R$ 3,618 bilhões.

...e a fuga dos bilionários

"Coincidentemente" (com aspas gigantes) o trio de bilionários que controlava as Americanas havia 40 anos decidiu sair do controle da empresa em novembro do mesmo ano em que o rombo de quase R$ 4 bilhões na época ficou maquiado como lucro de R$ 2,885 bilhões.

Nesse processo, em que apenas a Americanas S.A. será listada, o trio de investidores verá sua participação diluída e passará a deter 29,2%, deixando o controle para ser o investidor de referência da empresa, que passará a ter capital difuso. [UOL]
No entanto, Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles saíram do controle da empresa mas continuaram com uma gorda fatia de ações (29,2%) desfrutando de dividendos de uma empresa que sabiam estar maquiando seus números para esconder um rombo bilionário.

Rombo que só cresceu com o tempo. Quando descoberto era de R$ 20 bilhões. Investigações posteriores chegaram a R$ 47 bilhões. Valor que como mostramos aqui...

Os R$ 47 bilhões desviados pelos bilionários na fraude das Americanas dariam para pagar um salário mínimo mensalmente a 100 mil brasileiros durante 30 anos.

100.000 (número de trabalhadores) x 1320 (salário mínimo atual) x 360 (número de meses de 30 anos) = 47 bilhões e 520 milhões de reais.

 

Meritocracia em ação

"Coincidentemente" (com aspas gigantes também) um dos três bilionários resolveu mostrar como funciona a meritocracia para eles:

Perto do Natal do ano passado (ou seja, após a divulgação do rombo das Americanas), Marcel Telles doou sua participação na cervejaria AB InBev (R$ 29,5 bilhões) para o seu filho mais novo, Max Telles. É a meritocracia fazendo mais um bilionário no Brasil.

— E para as Americanas?
— Nada.
— E para o filhinho?
— A maior cervejaria do mundo!

Ainda assim a divulgação do escândalo do rombo bilionário das Americanas estava no limbo, até a operação da Polícia Federal ontem:

Um ex-CEO e uma ex-diretora da Lojas Americanas são procurados pela Polícia Federal após serem alvos de mandado de prisão por suspeita de ligação com o rombo de R$ 25,2 bilhões na empresa. Nesta quinta-feira (27), a PF também cumpriu mandados de busca e apreensão contra outros ex-executivos da varejista.

Com destaque para uma informação escondida no meio da matéria:

A operação desta quinta não envolve o trio de bilionários sócios de referência da empresa, Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles. [Folha]

Pelo visto, a história de que os bilionários não sabiam de nada e foram vítimas de uma diretoria trapaceira está colando, o que, traduzido quer dizer: está nos sendo enfiada goela abaixo.

Como disse outro bilionário, Elon Musk, a respeito do golpe na Bolívia em 2019:

"Lide com isso."


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