O escritor e religioso Frei Betto deu uma entrevista ao Opera Mundi em que comentou a teologia do domínio, a isenção de impostos para as Igrejas, as relações entre Estado e religião.
A teologia do domínio
Eu denunciaria, como Jesus fez, essa teologia do domínio, porque essa teologia do domínio quer se apropriar do Estado e voltar àquela época medieval em que o estado foi confessionalizado. O Estado tem que ser laico. O Estado tem que representar toda a população. O estado não pode ser o estado de uma determinada religião, como acontece com o Estado de Israel, que é um estado confessional. Pouca gente sabe que Israel não tem Constituição, a Constituição é a Torá, os textos sagrados. Constituição entre aspas . Isso é inadmissível na modernidade ou pós-modernidade como vivemos hoje. Não podemos admitir de jeito nenhum a confessionalização do Estado.
Estado e religião
O equilíbrio consiste em não partidarizar as religiões e não confessionalizar o Estado. Esse é o equilíbrio. Temos que respeitar a liberdade religiosa, propiciar plena liberdade no exercício de todas as religiões e que elas se respeitem umas às outras, porque Deus não tem uma religião. Não existe isso de que uma religião é melhor do que a outra. Só na cabeça de fanáticos.
Impostos e igrejas
Eu pessoalmente sou a favor de cobrar impostos das religiões. Acho que é uma falha que está favorecendo muitas corporações criminosas para lavar dinheiro o fato de poder fundar uma igreja hoje no Brasil e ficar isento de tributo. Isso só favorece o crime organizado. Então é preciso também enquadrar as religiões dentro do sistema tributário brasileiro.
Imposto e voto obrigatório
Eu sou a favor do voto obrigatório enquanto pagar impostos for
obrigatório. No dia que for facultativo eu abraço no mesmo dia o voto
facultativo. Mas se eu sou obrigado a financiar a máquina do Estado por
que que eu não sou obrigado a escolher quem vai ocupá-la? Porque eu quero
um Estado que realmente assuma os seus deveres frente aos direitos do
cidadãos como acontecem nos países nórdicos. Você tem um retorno maravilhoso
em termos de qualidade de educação, de saúde, de transporte na Finlândia. A gente precisa ter essa visão de que o cidadão tem
os seus direitos e o Estado tem os seus deveres. Agora, o Estado é mantido
pelos impostos. É a única fonte de renda dele, ele não produz nada é aquilo
que ele recolhe dos impostos pagos pelo cidadão.