Resgatado ainda com vida homem perdido há anos dentro de seus sonhos

Finalmente foi resgatado um homem que havia anos estava perdido dentro de seus sonhos. As primeiras informações dizem que ele se encontra razoavelmente bem, para quem esteve tanto tempo ausente do mundo real, mas que ainda não tem uma explicação para o que lhe aconteceu.

Segundo suas primeiras palavras, ele vivia uma vida normal, como todos nós, mas com aqueles sonhos, que também são normais a vários de nós. No entanto, segundo ele, à medida que os sonhos não se realizavam e ele sentia que continuavam lá, nítidos, pulsantes, mas eram como a linha do horizonte, que vemos, mas jamais conseguimos alcançá-la, pois se lança sempre mais adiante, de acordo com nossos passos.

O diferente que aconteceu com ele, segundo disse, é que os sonhos que se mantinham distantes, inalcançáveis talvez, ao mesmo tempo se tornavam mais presentes e grandiosos e urgentes em sua vida. O dia de 24 horas, a rotina do trabalho, da condução para o trabalho, tudo isso lhe tomava tempo dos sonhos, e esses começaram a se interpor entre ele e a realidade.

No início, sempre segundo suas palavras, às vezes alguém do passado pegava o mesmo ônibus que ele. Não conversavam, porque havia às vezes décadas entre eles; dividiam o mesmo espaço, mas em tempos diferentes.

Uma vez teve que descer do ônibus, pois se viu criança andando de velocípede na pracinha com uma alegria que ele queria reter e precisava rever ao vivo. Desceu do ônibus com o coração na boca, correu até a praça e viu o menino. Era ele mesmo, e corria com seu pequeno velocípede fazendo com que o vento tocasse seu topete armado com Gumex, e o esforço deixava suas bochechas gordas vermelhas, pulsantes de vida.

Fatos desse tipo começaram a acontecer mais vezes. Não mais em relação ao passado, como recordações vivas. Mas em relação ao futuro. Aos sonhos que tinha, como, por exemplo, de estar à beira-mar, sentado, apenas ouvindo o som do mar, o murmúrio das marolas e o som profundo do silêncio entre elas, e ele ficava respirando aquele ar úmido e fresco, enquanto o vento balançava seus cabelos como um carinho, numa sensação de que não tinha vontade de se despedir, mas, ao contrário, de se deixar levar por ela, ficar ali, sentindo aquilo que estava sentindo, apenas vivendo o que vivia, ali, inteiro, uno com o momento. Totalmente presente.

Essa sensação começou a cobrar dele mais horas e depois mais dias. Uma vez ele se viu num café conversando com alguém que ele tem certeza de que nunca vira na vida, uma menina muito linda que, se ele tivesse conhecido antes, não esqueceria. Pois eles conversavam como velhos amigos, a conversa fruía e eles estavam no terceiro café, quando ela lhe perguntou por um nome, ele estranhou e devolveu a pergunta. Foi quando ela disse que era o nome do filho deles.

Naquele dia, ele disse, se levantou assustado, porque sabia que não tinha filhos, não conhecia aquela mulher e tudo aquilo estava ficando perigoso.

Voltou pra casa, tomou um banho, mas aquela angústia não o abandonava. Tomou um comprimido para dormir, talvez dois. Ou mais. Só sabe que tudo se misturou de vez, até o momento em que foi resgatado, dormindo no banco da praça de sua infância.

Não, não sabe há quanto tempo está ali. Não tem noção de dia, mês ou ano. Só sabe que estava sonhando, quando foi acordado. 

"Ou será que agora é que estou sonhando?" — foi o que ele disse à reportagem, com os olhos cheios de questões e perplexidades. 



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