Por que 11 pagamentos a um certo Arthur (com th) apavoram Arthur Lira?

Está nas mãos do Procurador Geral da República Paulo Gonet a retomada ou não de um processo que apavora o presidente da Câmara Arthur Lira, relativo a compras super faturadas de itens do chamado kit robótica.

Investigações da Polícia Federal chegaram a assessores muito próximos de Lira, na casa de quem foram encontradas além de grande quantidade de dinheiro, a movimentação financeira de boa parte do esquema e, especialmente, onze pagamentos em nome de um certo Arthur (com th), como Arthur Lira, e outros indícios que ligam o presidente da Câmara aos pagamentos.

Na época, Lira ficou tão perturbado com as investigações que apelou ao STF e conseguiu de Gilmar Mendes uma sentença que simplesmente anulou toda a investigação e todas as provas obtidas. 

A razão: segundo o ministro Mendes, o delegado sabia desde o início que as investigações chegariam a Lira, por isso deveriam ter subido do âmbito estadual para o federal, já que Lira é deputado federal. Como não o fez, todo o trabalho foi jogado no lixo.

Ou quase. 

O fator Dino

No dia 21 passado, o ministro Flávio Dino enviou ao PGR Paulo Gonet uma série de processos para análise. Um deles é exatamente este que trata de possíveis irregularidades na aquisição do kit robótica por prefeituras de Alagoas, terra de Arthur Lira.

A Operação Hefesto da PF apreendeu nos endereços do principal auxiliar do deputado, Luciano Cavalcante, e do motorista do auxiliar, Wanderson Ribeiro Josino de Jesus, um caderno-caixa, mostrando saldos, repasses, destinatários e datas. 

As anotações manuscritas, que estavam dentro de um Corolla, referem-se aos meses de abril e maio deste ano. O nome “Arthur”, que os investigadores suspeitam referir-se ao deputado Arthur Lira, aparece onze vezes e vem acompanhado dos maiores valores, que totalizam pouco mais de 265 mil reais. Somando-se todos os depósitos anotados, o total dos repasses chega a 496 mil reais.

 


 

A revista Piauí teve acesso aos documentos obtidos pela PF:

 

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Nas anotações do mês de abril, consta que “Arthur” recebeu 20 mil reais no dia 8. Uma semana depois, foram mais 30 mil reais. No dia 17 de abril, houve um gasto de 3 652,00 reais para “Hotel Emiliano = Arthur”. Coincidência ou não, quando vai a São Paulo, o deputado costuma se hospedar no Hotel Emiliano, nos Jardins. Além disso, os registros da Aeronáutica mostram que no exato dia 17 Arthur Lira embarcou num avião da FAB em Brasília com destino a São Paulo.

O dia 28 de abril registra o maior volume de recursos, com quatro repasses no total:

  1. * 6 026,87 reais para “carro Arthur”.
  2. * 844,47 para “Pix almoço […] Arthur”
  3. * 29 200 reais em favor de “Djair = Arthur”
  4. * 100 mil reais para “Arthur”.

O relatório da PF não informa quem é “Djair”, o beneficiário de 29 200 reais, mas há mais uma coincidência: o deputado Arthur Lira emprega em seu gabinete um secretário parlamentar cujo nome é Djair Marcelino. O secretário parlamentar foi denunciado como integrante de um milionário esquema de rachadinha, que, segundo o Ministério Público Federal, Lira comandou na Assembleia Legislativa de Alagoas na época em que era deputado estadual.

As anotações ainda registram dois pagamentos adicionais. Um deles, realizado no dia 10 de abril, no valor de 12 509,71 reais, foi em favor do “Hotel Emiliano”, mas não há menção ao nome de “Arthur”. Em outra coincidência, os registros da Aeronáutica mostram que o deputado viajou para São Paulo no dia 4 de abril, voando em avião da FAB de Maceió para São Paulo, de onde voou para Brasília no dia 9 de abril. E, neste período, passou por uma cirurgia que demandou repouso na capital paulista. Outro pagamento, feito no dia 29 de abril, no valor de 4,8 mil reais, em favor de “telefone – D. Ivonete”. Não há detalhes, mas os agentes da Polícia Federal desconfiam que seja uma menção à mãe de Arthur Lira. Ela se chama “Ivanete”, com “a” em vez de “o”.

No dia 8 de abril, aparecem ainda dois registros – um de 1 mil reais, outro de 4 mil reais – em favor de “Álvaro”. Em 26 de abril, “Álvaro” recebeu mais 700 reais. A Polícia Federal também não identifica no relatório o beneficiário, mas, em nova coincidência, um dos filhos de Arthur Lira chama-se Álvaro.

As anotações de maio registram gastos mais modestos. Mostra que no dia 2 houve um repasse de 8 170 reais para “pagamento Fabio engenheiro/Arthur”. No dia seguinte, foram 23 850 reais para “materiais elétricos fazenda = Arthur”. Em 5 de maio, houve dois pagamentos. Um de 24 884 reais, em favor de “Fabio engenheiro Arthur” e mais 8,5 mil reais para “pagamento irrigação = Arthur”. Arthur Lira tem fazendas em Alagoas. 

 

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A ligação de Arthur Lira com Luciano Cavalcante é antiga e estreita, a ponto de a filha de Cavalcante e o filho de Lira serem sócios em uma empresa de comunicação publicitária com sede em Brasília. 

Sobre o assunto Arthur Lira disse o seguinte:

“Eu não vou comer essa corda, vou me ater a receber informações mais precisas e cada um é responsável pelo seu CPF nesta terra e neste país.”

Vamos ver se Paulo Gonet vai dar andamento às investigações ou repetir a decisão de seu ex-sócio e principal defensor de sua nomeação à PGR, Gilmar Mendes, e arquivar definitivamente o caso. Para alívio do Arthur (com th).

 

 

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