Nosso maior dramaturgo e cronista, Nelson Rodrigues, dizia que o dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro.
É o caso da Folha em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro. O antigo jornal, hoje assumidamente empresa de lobby, parceira da Lide de Dória, mal saiu o resultado das urnas nos Estados Unidos com a vitória de Donald Trump se descobriu in love com Bolsonaro.
Nos últimos dias o inelegível está sempre nas páginas da Folha fazendo declarações sobre coisas que só existem na cabeça dele, como ser candidato a presidente em 2026, já que está inelegível até 2030.
Acontece que a piscadela da Folha deu match e o ex-presidente, que sempre tratou a imprensa aos zurros e coices, agora resolveu dar declarações fofas:
"Na relação com a imprensa, eu fui muito impetuoso muitas vezes" —declarou à Folha.
No dia seguinte ele estava na Folha de novo em mais uma sessão de jornalismo declaratório e hoje também, com a coluna Painel levantando sua bola:
A coluna compara Bolsonaro com Marçal e diz que ele foi o vencedor da semana graças à vitória de Trump (como se isso fosse mérito dele), enquanto Marçal foi o perdedor por ser indiciado pela PF por divulgar laudo falso com ataque a Guilherme Boulos na disputa à prefeitura de São Paulo.
Talvez a comparação tenha sido feita porque tanto um como outro se declaram candidatos em 2026. Mas há uma grande diferença entre os dois que a coluna não julgou importante destacar: Marçal foi indiciado, mas ainda não foi nem julgado, enquanto Bolsonaro foi julgado e condenado e está inelegível, portanto, é carta fora do baralho para 2026, por mais que delire.
Essa relação interesseira da Folha para fustigar o governo Lula insuflando candidaturas adversárias ao presidente passa por cima até do relacionamento doentio de Bolsonaro com a imprensa, com ataques inclusive à Folha:
"A Folha de S.Paulo avançou a todos os limites, transformou-se num panfleto ordinário às causas dos canalhas", afirmou Bolsonaro em suas redes sociais. "Com mentiras, já habituais, conseguiram descer às profundezas do esgoto", disse.Não apenas isso. A Folha passa por cima da ofensa que Bolsonaro fez à sua repórter Patrícia Campos Mello, a quem acusou de "querer dar o furo" para conseguir algo contra ele.
A Folha parece querer começar um novo relacionamento com Bolsonaro, deixar o passado para trás, e dançar coladinho até o momento inevitável em que ele for para a cadeia, condenado por vários dos crimes que cometeu, especialmente o mais grave, de planejar e tentar um golpe de Estado, o que foi confirmado pelos comandantes das Forças Armadas em depoimento à Polícia Federal.
O grande Zeca Pagodinho tem até uma música perfeita para dança desse novo casal, uma parceria de Acyr Marques e Arlindo Cruz que tem tudo a ver com ambos: