Problema do Carrefour não é só com o gado brasileiro, é com o povo também

O que era para ser só um agrado aos agricultores franceses saiu pela culatra. No dia 20, o principal executivo mundial do Carrefour, Alexandre Bompard, publicou numa carta endereçada ao presidente da Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores da Europa:

"Em toda a França, ouvimos o desespero e a indignação dos agricultores diante do projeto de acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul e o risco de inundação do mercado francês com carne que não atende às suas exigências e normas. Em resposta a essa preocupação, o Carrefour quer agir em conjunto com o setor agrícola e assume hoje o compromisso de não comercializar nenhuma carne proveniente do Mercosul."
A notícia caiu como uma bomba no meio dos pecuaristas brasileiros e todo o agro (e a mídia irrigada por verbas dele) correu para atacar o Carrefour e defender a nossa carne e nossos pecuaristas — aqueles mesmos que transformam o Pantanal, o Cerrado e a Floresta Amazônica em imensas pastagens.

Os empresários brasileiros reagiram simplesmente boicotando as lojas do Carrefour no Brasil que deixaram de receber carnes produzidas por aqui.

O Carrefour voltou atrás, emitiu uma nota se desculpando e já está jorrando dinheiro em campanhas publicitárias para limpar sua imagem com os brasileiros. Hoje mesmo pagaram para ser a primeira página do principal jornal do Rio, O Globo:

 


Carrefour e o Brasil

 

Mas os problemas do Carrefour estão longe de ser apenas com a carne produzida por aqui. O tratamento que o Carrefour dispensa aos brasileiros já frequentou as páginas dos jornais e nossos principais telejornais não na área de negócios, mas na área policial.

  • Em novembro de 2020, um homem negro, João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi espancado até a morte em uma loja localizada em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, por um policial militar e um segurança terceirizado do supermercado.
  • Em 14 de agosto daquele ano, um promotor de vendas do Carrefour faleceu enquanto trabalhava em uma unidade do grupo, em Recife (PE). O corpo de Moisés Santos, de 53 anos, foi coberto com guarda-sóis e cercado por caixas, para que a loja seguisse em funcionamento e permaneceu no local entre 8h e 12h, até ser retirado pelo Instituto Médico Legal (IML).
  • Em maio de 2019, a Justiça do Trabalho de São Paulo concedeu liminar pedida pelo Sindicato dos Comerciários de Osasco e Região contra o Carrefour, que estaria controlando a ida dos empregados ao banheiro. Nas sedes de sete cidades (Barueri, Carapicuíba, Embu, Itapevi, Jandira, Osasco e Taboão da Serra), operadores de atendimento e de telemarketing eram obrigados a utilizar "filas eletrônicas" para o uso do banheiro e ainda tinham que explicar aos supervisores o que iam fazer lá, número 1 ou número 2.
  • Em dezembro de 2018, um cão que estava no estacionamento de uma das lojas da empresa, em Osasco, São Paulo, morreu após ser envenenado com chumbinho e espancado com barra de ferro por um funcionário. Este alegou que recebeu ordens do gerente de sumir com o cachorro porque um supervisor iria visitar aquela filial do Carrefour.
  • Em outubro de 2018, funcionários da empresa, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, agrediram Luís Carlos Gomes, porque ele abriu uma lata de cerveja dentro da loja. Mesmo alegando que ira pagar pela cerveja, Luís Carlos, que é negro e deficiente físico, foi violentamente agredido e sofreu múltiplas fraturas.
  • Em 2009, seguranças da rede de hipermercados agrediram o vigia e técnico em eletrônica Januário Alves de Santana, de 39 anos, no estacionamento de uma unidade em Osasco. Ele teria sido confundido com um ladrão e foi acusado de roubar o próprio carro, um EcoSport. 

Pelo visto o Carrefour vai ter que investir muito em limpeza de imagem.

Com informações do Brasil de Fato.

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