Porta-voz extraoficial da família Marinho mas também dos militares, o jornalista e presidente da Academia Brasileira de Letras (alguém desvira Machado de Assis no túmulo, por favor) Merval Pereira deu a informação em sua coluna de O Globo: a família militar estaria em polvorosa com receio da PF em suas portas.
O jornalista foi escutar auxiliares do comandante do Exército, general Tomás Paiva, para sentir a temperatura dos quartéis após a prisão do general quatro estrelas Braga Netto, acusado de participação na linha de comando da trama para um golpe de Estado no Brasil pra manter no poder Jair Bolsonaro, que envolvia o assassinato de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes.
Segundo Merval, a prisão de Braga Netto trouxe aflição à "família militar". Não é para menos, afinal as investigações da Polícia Federal apontam uma penca de militares graduados envolvidos no plano, inclusive o, ao que parece intocável, general Heleno. Sem contar os mais de seis mil militares que participaram do governo Bolsonaro.
"O relato dos que estiveram com o comandante, porém, diz que ele não considera haver nenhuma ação extraordinária contra o Exército, diante do que já foi descoberto e do que presumidamente ainda será revelado pelas investigações. Ele se preocupa, sim, com a família militar em polvorosa, muitos temendo que a qualquer momento a Polícia Federal (PF) chegue a suas portas" — escreve Merval.
Para não perde a viagem, Merval aproveita para jogar a culpa de tudo em Bolsonaro, sem citar que foi o próprio atual comandante do Exército quem recebeu Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras em 2014 para fazer proselitismo político e o lançamento de sua campanha à presidência do país, numa atitude que contraria as normas da AMAN. O general também era auxiliar do comandante do Exército à época, Villas Bôas, quando este escreveu uma mensagem de advertência para que o STF não permitisse a candidatura de Lula em 2018.
Ao título de seu artigo ("De quem é a culpa") o jornalista responde com sua certeza, que livra a cara do CNPJ (como o ministro da Defesa José Múcio) e coloca tudo na conta do CPF de Bolsonaro, a quem trata como um vingador que queria uma forra de seu "convite para se retirar" do Exército:
O que Bolsonaro ofereceu aos militares foi poder, prestígio e dinheiro, mas exigiu de volta obediência absoluta, lealdade e cumplicidade no projeto de golpe de Estado que cultivava desde os primeiros dias de governo.
(...) Bolsonaro gostava de submeter seus subordinados, especialmente os generais, a demonstrações de poder, afirmando que “quem entende de voto aqui sou eu”. O que poderia ser uma imposição do poder civil sobre o militar era apenas a vingança de um militar de baixa patente contra os que não o deixaram permanecer nos quartéis. Bolsonaro às vezes se impunha pela força dos votos, outras pela força de ser o comandante em chefe das Forças Armadas. Usava sua experiência nos dois campos para impor sua vontade.
Se alguém colaborou para que os militares entrassem na ilegalidade na volta ao poder, esse alguém foi Bolsonaro, a que poucos resistiram ou reagiram quando ele apresentou seus planos autocráticos. Tomás Paiva trabalha justamente para colocar as coisas nos trilhos da legalidade, e os que o pressionam para se rebelar contra as prisões sonham com um passado que não deve voltar.